terça-feira, 29 de julho de 2008

Basílio da Gama e "O Uruguai"


José Basílio da Gama era filho do capitão-mor, Manuel da Costa Villas-Boas e de uma neta de Leonel da Gama Belles, oficial da Colônia, de quem adotou o nome. Estudou no Rio de Janeiro, no Colégio dos Jesuítas, mas com a expulsão da Companhia de Jesus, já noviço, transferiu-se para o Seminário Episcopal de São José.Depois de passar por Coimbra e Lisboa, foi estudar em Roma, mas por ligações com os jesuítas, acabou sendo julgado pelo Tribunal da Inquisição e recebendo a pena de degredo em Angola. Depois, foi perdoado por Pombal, porque fez um "Epitalâmio" à filha do Marquês, onde elogia o Ministro e ataca os jesuítas.Participou da efervescência do Arcadismo português, revelando assim, seu talento de poeta neoclássico, ao escrever poesias líricas e, especialmente, épica. Com O Uraguai consegue a celebridade, ao reverter o esquema épico tradicional; harmonizar a paisagem à ação épica, dando-lhe plasticidade, além de tratar os indígenas como matéria poética, e não apenas informativa. Utiliza os versos da tradição épica neolatina, o decassílabo, com o qual consegue efeitos sonoros e imagéticos que reforçam os significados.O poema é também um canto de louvor à política de Pombal, com dedicatória ao Ministro da Marinha, Mendonça Furtado, irmão do mesmo Marquês, que trabalhou na demarcação dos limites setentrionais entre Brasil e América Espanhola, cumprindo o Tratado de Madri. Desde modo, acabou membro da Academia Real das Ciências de Lisboa.Principais obras: "Epitalâmio às Núpcias da Senhora. Dona Maria Amália" (1769); "O Uraguai" (1769); "A Declamação Trágica" (1772); "Quitúbia" (1791).


Mais informações sobre Basílio Gama, podem ser enconcontradas em:



O Uraguai é um poema épico escrito por Basílio da Gama em 1769, conta de forma romanceada a história da disputa entre jesuítas, índios (liderados por Sepé Tiaraju) e europeus (espanhóis e portugueses) nos Sete Povos das Missões, no Rio Grande do Sul.
O poema épico trata da expedição mista de portugueses e espanhóis contra as missões jesuíticas do Rio Grande, para executar as cláusulas do Tratado de Madrid, em 1756. Tinha também o intuito de descrever o conflito entre ordenamento racional da Europa e o primitivismo do índio.


Análise da obra

O Uraguai, poema épico de 1769, critica drasticamente os jesuítas, antigos mestres do autor Basílio da Gama. Ele alega que os jesuítas apenas defendiam os direitos dos índios para ser eles mesmos seus senhores. O enredo situa-se todo em torno dos eventos expedicionários e de um caso de amor e morte no reduto missioneiro.


Tema central: Pelo Tratado de Madri, celebrado entre os reis de Portugal e de Espanha, as terras ocupadas pelos jesuítas, no Uruguai, deveriam passar da Espanha a Portugal. Os portugueses ficariam com Sete Povos das Missões e os espanhóis, com a Colônia do Sacramento. Sete Povos das Missões era habitada por índios e dirigida por jesuítas, que organizaram a resistência à pretensão dos portugueses. O poema narra o que foi a luta pela posse da terra, travada em princípios de 1757, exaltando os feitos do General Gomes Freire de Andrade. Basílio da Gama dedica o poema ao irmão do Marquês de Pombal e combate os jesuítas abertamente.


Personagens

General Gomes Freire de Andrade (chefe das tropas portuguesas); Catâneo (chefe das tropas espanholas); Cacambo (chefe indígena); Cepé (guerreiro índio); Balda (jesuíta administrador de Sete Povos das Missões); Caitutu (guerreiro indígena; irmão de Lindóia); Lindóia (esposa de Cacambo); Tanajura (indígena feiticeira).


Resumo da narrativa

A pobreza temática impele Basílio da Gama a substituir o modelo camoniano de dez cantos por um poema épico de apenas cinco cantos, constituídos por versos brancos, ou seja, versos sem rimas.


Canto I: Saudação ao General Gomes Freire de Andrade. Chegada de Catâneo. Desfile das tropas. Andrade explica as razões da guerra. A primeira entrada dos portugueses enquanto esperam reforço espanhol. O poeta apresenta já o campo de batalha coberto de destroços e de cadáveres, principalmente de indígenas, e, voltando no tempo, apresenta um desfile do exército luso-espanhol, comandado por Gomes Freire de Andrade.


Canto II: Partida do exército luso-castelhano. Soltura dos índios prisioneiros. É relatado o encontro entre os caciques Cepê e Cacambo e o comandante português, Gomes Freire de Andrade, à margem do rio Uruguai. O acordo é impossível porque os jesuítas portugueses se negavam a aceitar a nacionalidade espanhola. Ocorre então o combate entre os índios e as tropas luso-espanholas. Os índios lutam valentemente, mas são vencidos pelas armas de fogo dos europeus. Cepé morre em combate. Cacambo comanda a retirada.


Canto III: O General acampa às margens de um rio. Do outro lado, Cacambo descansa e sonha com o espírito de Cepê. Este incita-o a incendiar o acampamento inimigo. Cacambo atravessa o rio e provoca o incêndio. Depois, regressa para a sede. Surge Lindóia. A mando de Balda, prendem Cacambo e matam-no envenenado. Balda é o vilão da história, que deseja tornar seu filho Baldeta, cacique, em lugar de Cacambo. Observa-se aqui uma forte crítica aos jesuítas. Tanajura propicia visões a Lindóia: a índia “vê” o terremoto de Lisboa, a reconstituição da cidade pelo Marquês de Pombal e a expulsão dos jesuítas.


Canto IV: Maquinações de Balda. Pretende entregar Lindóia e o comando dos indígenas a Baldeta, seu filho. O episódio mais importante: a morte de Lindóia. Ela, para não se entregar a outro homem, deixa-se picar por uma serpente. Os padres e os índios fogem da sede, não sem antes atear fogo em tudo. O exército entra no templo. O poema apresenta então um trecho lírico de rara beleza: "Inda conserva o pálido semblante Um não sei que de magoado e triste Que os corações mais duros enternece, Tanto era bela no seu rosto a morte!"Com a chegada das tropas de Gomes Freire, os índios se retiram após queimarem a aldeia.


Canto V: Descrição do Templo. Perseguição aos índios. Prisão de Balda. O poeta dá por encerrada a tarefa e despede-se. Expressa suas opiniões a respeito dos jesuítas, colocando-os como responsáveis pelo massacre dos índios pelas tropas luso-espanholas. Eram opiniões que agradavam ao Marquês de Pombal, o todo-poderoso ministro de D. José I. Nesse mesmo canto ainda aparece a homenagem ao general Gomes Freire de Andrade que respeita e protege os índios sobreviventes.


Apreciação crítica

O poema é escrito em decassílabos brancos, sem divisão em estrofes, mas é possível perceber a sua divisão em partes: proposição, invocação, dedicatória, narrativa e epílogo. Abandona a linguagem mitológica, mas ainda adota o maravilhoso, apoiado na mitologia indígena. Foge, assim, ao esquema tradicional, sugerido pelo modelo imposto em língua portuguesa, Os Lusíadas. Por todo o texto, perpassa o propósito de crítica aos jesuítas, que domina a elaboração do poema.A oposição entre rusticidade e civilização, que anima o Arcadismo, não poderia deixar de favorecer, no Brasil, o advento do índio como tema literário. Assim, apesar da intenção ostensiva de fazer um panfleto anti-jesuítico para obter as graças de Pombal, a análise revela, todavia, que também outros intuitos animavam o poeta, notadamente descrever o conflito entre a ordenação racional da Europa e o primitivismo do índio.Variedade, fluidez, colorido, movimento, sínteses admiráveis caracterizam os decassílabos do poema, não obstante equilibrados e serenos. Ele será o modelo do decassílabo solto dos românticos.Além dessas, outras características notáveis do poema são:Sensibilidade plástica: apreende o mundo sensível com verdadeiro prazer dos sentidos. Recria o cenário natural sem que a notação do detalhe prejudique a ordem serena da descrição.


Senso da situação:

O poema deixa de ser a celebração de um herói para tomar-se o estudo de uma situação: o drama do choque de culturas.Simpatia pelo índio, que, abordado inicialmente por exigência do assunto, acaba superando no seu espírito o guerreiro português, que era preciso exaltar, e o jesuíta, que era preciso desmoralizar. Como filho da “simples natureza”, ele aparece não só por ser o elemento esteticamente mais sugestivo, mas por ser uma concessão ao maravilhoso da poesia épica.Devido ao tema do índio, durante todo o Romantismo, o nome de Basílio da Gama foi talvez o mais freqüente, quando se tratava de apontar precursores da literatura nacional. Convém, entretanto, distinguir neste poeta o nativismo do interesse exterior pelo exótico, havendo mesmo predomínio deste, pois o indianismo não foi para ele uma vivência, foi antes um tema arcádico transposto em linguagem pitoresca.O preto africano lhe feriu a sensibilidade também, tendo sido o primeiro a celebrá-lo no poemeto Quitúbia, mostrando que a virtude é de todos os lugares.Basílio foi poeta revolucionário com seu poema épico. Enquanto Cláudio trazia ao Brasil a disciplina clássica, Basilio, sem transgredi-la muito, mas movendo-se nela com maior liberdade estética e intelectual, levava à Europa o testemunho do Novo Mundo.



O URUGUAI


Santa Rita Durão e o Caramuru

Frei José de Santa Rita Durão (Cata Preta (Mariana), 1722Lisboa, 1784) foi um religioso agostiniano brasileiro[1] [2] do período colonial, orador e poeta. É também considerado um dos precursores do indigenismo no Brasil. Seu poema épico Caramuru é a primeira obra a ter como tema o habitante nativo do Brasil; foi escrita ao estilo de Luís de Camões, imitando um poeta clássico assim como faziam os outros neoclássicos (árcades).


Vida
Estudou no Colégio dos Jesuítas no Rio de Janeiro até os dez anos, partindo no ano seguinte para a Europa, onde se tornaria padre agostiniano. Doutorou-se em Filosofia e Teologia pela Universidade de Coimbra, e em seguida lá ocupou uma cátedra de Teologia.
Durante o governo de Pombal, foi perseguido e abandonou Portugal. Trabalhou em Roma como bibliotecário durante mais de 20 anos, até a queda de seu grande inimigo, retornando então ao país luso. Esteve ainda na Espanha e na França. Voltando a Portugal com a "viradeira" (queda de Pombal e restauração da cultura passadista), a sua principal atividade será a redação de Caramuru, publicado em 1781. Morre em Portugal em 24 de janeiro de 1784.
Ao Brasil não voltaria mais, e sua epopéia é uma forma de demonstrar que ainda tinha lembranças de sua terra natal.

Obra
Quase a única obra restante escrito por Durão é seu poema épico de dez cantos, Caramuru, o qual é extremamente preso ao modelo de Camões. Formado por oitavas rimadas e incluindo informação erudita sobre a flora e a fauna brasileiras e os Índios do país. Caramuru é um tributo à sua terra natal. Segundo a tradição, a reação da crítica e do público ao seu poema foi tão fria que Santa Rita Durão destruiu o restante de sua obra poética.

Lista de obras
Pro anmia studiorum instauratione oratio (1778)
Caramuru (1781)

Referências
O termo brasileiro muito antes da independência já era o adjetivo pátrio dos naturais do "Estado do Brasil". Veja por exemplo carta régia dada em Lisboa aos 20 de outubro de 1798 que cria a Vila do Paracatu do Príncipe, ali se lê: ..."em diante se denomina Villa de Paracatu do Principe; e que tenha e goze de todos os privilegios, Liberdades, franquezas, honras e isençoens de que gozão as outras Villas do mesmo Estado do Brasil"... (Revista do Arquivo Público de Minas Gerais - ano I, fasc. II. Imprensa Oficial de Minas Gerais; Ouro Preto; 1896 - pg. 349.)

Logo logo na colônia o comércio do pau-brasil foi abandonado e substituído pela produção de cana-de-açucar - surgiu o ciclo da cana-de-açucar; aliás foi o que atraiu os holandeses com a sua Cia. das Indias Ocidentais e Maurício de Nassau (1580)e o gentílico brasileiro permaneceu. No século XVII já não se falava mais em comércio de pau-brasil mas em ouro e diamantes. Portanto, no século XVII o comércio de pau-brasil já era praticamente inexistente. Por isto o termo perdeu a conotação de profissão. Veja ainda sobre o assunto: Viagem pela História do Brasil; Jorge Caldeira; Cia. das Letras; São Paulo; 1997 - pg.34

Obtido em "http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_de_Santa_Rita_Dur%C3%A3o"



O CARAMURU

O poema épico Caramuru é publicado doze anos depois de O Uraguai, contudo não existe uma continuidade entre ambos. Nem formal, nem ideológica. Ao contrário de Basílio da Gama, admirador de Pombal, Santa Rita Durão lembra o período pombalino como uma época de horrores. Assim, a visão anti-jesuítica de seu antecessor cede lugar a uma narrativa de inspiração religiosa.
Também ao inverso de Basílio da Gama, que procurou inovar usando versos brancos e dividindo o poema em apenas cinco cantos, o bom frei segue rigidamente o modelo camoniano de Os Lusíadas. Realiza seu poema em dez cantos, com estrofes de oito versos decassílabos e rimados. Sua pretensão, tão maiúscula quanto a sua falta de criatividade, é compor uma obra-síntese sobre a colonização do Brasil:
Os sucessos do Brasil não mereceriam menos um poema que os da Índia. Incitou-me a escrever este, o amor pela Pátria.

Resumo
O poema narra a história (lenda?) do aventureiro Diogo Álvares Correia, que naufraga na costa da Bahia, no século XVI, sendo recolhido por índios. Ele os maravilha com sua espingarda, procurando depois catequizá-los e colonizá-los. Esta junção do herói português com o herói católico é representado pelo desejo de Caramuru em desposar uma jovem indígena e assim sacramentar a união entre os nativos e os conquistadores.
Noiva então com a casta Paraguaçu, filha de um cacique e, como não há padres para efetivar o matrimônio, os noivos embarcam, ainda puros, numa caravela francesa, rumo à Europa. Lá, a exótica dupla dos trópicos vai deslumbrar a requintada Corte da França.
Na partida do litoral brasileiro, ocorre a cena mais famosa de Caramuru: jovens indígenas apaixonadas pelo "filho do trovão" nadam em desespero atrás do navio, suplicando que o herói não se fosse. Em certo momento, já debilitadas resolvem retornar à terra. Uma indígena, entretanto, prefere morrer a perder de vista o homem branco. É Moema, que vai perecer tragada pelas ondas:

Perde o lume dos olhos, pasma e treme,
Pálida a cor, o aspecto moribundo,
Com a mão já sem vigor, soltando o leme,
Entre as salsas* escumas desce ao fundo:
Mas na onda do mar, que irado freme,
Tornando a aparecer desde o profundo:
"Ah! Diogo cruel!" disse com mágoa
E sem mais vista ser, sorveu-se n'água.

*Salsas: salgadas

Como o tema era pobre em demasia, Santa Rita Durão enche os dez cantos do Caramuru com "guerras, visões da história do Brasil dos séculos XVI a XVIII, viagens, festas na Corte, etc." O resultado dessa mistura é uma obra prolixa, onde os episódios se atropelam sem unidade, dissolvendo qualquer possibilidade de significado épico.
Uma Epopéia Medíocre
Caramuru é o elogio do trabalho de colonização e de catequese do europeu, especialmente da ação civilizadora do português. Mesmo não sendo padre, Diogo Álvares está interessado em conduzir o índio ao caminho do cristianismo. Este é o seu principal objetivo. Inexiste em Santa Rita Durão aquela fascinante ambigüidade com que Basílio da Gama trata o relacionamento entre brancos e nativos. Seu poema, além de monótono, é banal.
Trata-se de uma epopéia anacrônica, escrita por alguém que, vivendo longe do Brasil desde a infância, armazena toda a bibliografia existente a respeito de sua terra. Ele quer conferir ao Caramuru uma atmosfera fidedigna e objetiva, o que infelizmente não consegue.
E mesmo que os seus índios sejam retratados de forma um pouco mais realista que os de Basílio da Gama, há ainda na sua visão um pesado tributo aos preconceitos da época. A descrição da "doce Paraguaçu", por exemplo, contraria todo o princípio da realidade fisionômica e da cor dos indígenas. Ela é sem dúvida uma moça branca:
Paraguaçu gentil (tal nome teve),Bem diversa de gente tão nojosa,De cor tão alva como a branca neve,E donde não é neve, era de rosa;O nariz natural, boca mui breve,Olhos de bela luz, testa espaçosa.

Tomás Antônio Gonzaga


Tomás Antônio Gonzaga (Miragaia, 11 de agosto de 1744Ilha de Moçambique, 1810), cujo nome arcádico é Dirceu, foi um jurista, poeta e ativista político luso-brasileiro. Considerado o mais proeminente dos poetas árcades, é ainda hoje estudado em escolas e universidades por seu "Marília de Dirceu" (versos notadamente árcades feitos para sua amada).


Biografia
Nascido em Miragaia, freguesia da cidade portuguesa do Porto, em prédio hoje devidamente assinalado. Era filho de mãe portuguesa e pai brasileiro. Órfão de mãe no primeiro ano de vida, mudou-se com o pai, magistrado brasileiro para Pernambuco em 1751 depois para a Bahia, onde estudou no Colégio dos Jesuítas. Em 1761, voltou a Portugal para cursar Direito na Universidade de Coimbra, tornando-se bacharel em Leis em 1768. Com intenção de lecionar naquela universidade, escreveu a tese Tratado de Direito Natural, no qual enfocava o tema sob o ponto de vista tomista, mas depois trocou as pretensões ao magistério superior pela magistratura.Exerceu o cargo de juiz de fora na cidade de Beja, em Portugal. Quando voltou ao Brasil, em 1782, foi nomeado Ouvidor dos Defuntos e Ausentes da comarca de Vila Rica, atual cidade de Ouro Preto, então capital da capitania de Minas Gerais. Um ano depois conheceu a adolescente de apenas quinze anos Maria Dorotéia Joaquina de Seixas Brandão, a pastora Marília em uma das possíveis interpretações de seus poemas, que teria sido imortalizada em sua obra lírica (Marília de Dirceu) - apesar de ser muito discutível essa versão, tendo em vista as regras retórico-poéticas que prevaleciam no século XVIII, época em que o poema fora escrito.
Durante sua permanência em Minas Gerais, escreve Cartas Chilenas, poema satírico em forma de epístolas, uma violenta crítica ao governo colonial. Promovido a desembargador da relação da Bahia em 1786, resolve pedir em casamento Maria Dorotéia dois anos depois. O casamento é marcado para o final do mês de maio de 1789. Como era pobre e bem mais velho que ela, sofreu oposição da família da noiva.
Apesar do pequeno papel na Inconfidência Mineira ou Conjuração Mineira (primeira grande revolta pró-independência do Brasil), é acusado de conspiração e preso em 1789, cumprindo sua pena de três anos na Fortaleza da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, tendo seus bens confiscados. Foi, portanto, separado de sua amada, Maria Dorotéia. Sua implicância na Inconfidência Mineira parece ter sido fruto de calúnias arquitetadas por seus adversários. Permanece em reclusão por três anos, durante os quais, teria escrito a maior parte das liras atribuídas a ele, pois não há registros de assinatura em qualquer uma de suas poesias. Em 1792, sua pena é comutada em desterro e o poeta é enviado a costa oriental da África, a fim de cumprir, em Moçambique, a sentença de dez anos de degredo.
No mesmo ano é lançada em Lisboa a primeira parte de Marília de Dirceu, com 33 liras (nota-se que não houve participação, portanto, do poeta na edição desse conjunto de liras, e até hoje não se sabe quem teria feito). No país africano trabalha como advogado e hospeda-se em casa de abastado comerciante de escravos, vindo a se casar em 1793 com a filha dele, Juliana de Sousa Mascarenhas ("pessoa de muitos dotes e poucas letras"),com quem teve dois filhos: Ana Mascarenhas Gonzaga e Alexandre Mascarenhas Gonzaga, vivendo depois disso, durante quinze anos, rico e considerado, até morrer em 1810, acometido por uma grave doença. Em 1799, é publicada a segunda parte de Marília de Dirceu, com mais 65 liras. No desterro, ocupou os cargos de procurador da Coroa e Fazenda, e o de juiz de Alfândega de Moçambique (cargo que exercia quando morreu). Gonzaga foi muito admirado por poetas Romantismo/românticos como Casimiro de Abreu e Castro Alves. É patrono da cadeira de número 37 da Academia Brasileira de Letras.
Suas principais obras são: Tratado de Direito Natural; Marília de Dirceu (coleção de poesias líricas, publicadas em três partes, em 1792, 1799 e 1812 - hoje sabe-se que a terceira parte não foi escrita pelo poeta); Cartas Chilenas (impressas em conjunto em 1863).

Características literárias
Tula A poesia de Tomás Antonio Gonzaga apresenta as típicas características árcades e neoclássicas: o pastoril, o bucólico, a Natureza amena, o equilíbrio, etc. Paralelamente, possui características pré-românticas (principalmente na segunda parte de Marília de Dirceu, escrita na prisão): confissões de sentimento pessoal, ênfase emotiva estranha aos padrões do neoclassicismo, descrição de paisagens brasileiras, etc.
O convívio com o Iluminismo põe em seu estilo a preocupação em atenuar as tensões e racionalizar os conflitos.
Tomás Antonio Gonzaga escreveu versos marcados por expressão própria, pela harmonização dos elementos racionais e afetivos e por um leve toque de sensualidade. Segundo Alfredo Bosi, Gonzaga está acima de tudo preocupado em "achar a versão literária mais justa dos seus cuidados". Assim, "a figura de Marília, os amores ainda não realizados e a mágoa da separação entram apenas como 'ocasiões' no cancioneiro de Dirceu", o que diferencia o autor dos seus futuros colegas românticos.

Marília de Dirceu
As liras a sua pastora idealizada refletem a trajetória do poeta, na qual a prisão atua como um divisor de águas(a segunda parte do livro é contada dentro da prisão). Antes do encarceramento, num tom de fidelidade, canta a ventura da iniciação amorosa, a satisfação do amante, que, valorizando o momento presente, busca a simplicidade do refúgio na natureza amena, que ora é européia e ora mineira. Depois da reclusão, num tom trágico de desalento, canta o infortúnio, a injustiça (ele se considera inocente, portanto, injustiçado), o destino e a eterna consolação no amor da figura de Marília. São compostas em redondilha menor ou decassílabos quebrados. Expressam a simplicidade e gracioso lirismo íntimo, decorrentes da naturalidade e da singeleza no trato dos sentimentos e da escolha lingüística. Ao delegar posição poética a um campesino, sob cuja pele se esconde um elemento civilizado, Gonzaga demonstra mais uma vez suas diferenças com a filosofia romântica, pois segue o descrito nas regras para a confecção de éclogas nos manuais de poética da época, que instruem aos poetas que buscam a superação dos antigos, imitando-os, a utilizações de eu-líricos que se aproximem as figuras de pastores, caçadores, hortelãos e vaqueiros.
Marília é ora morena, ora loira. O que comprova não ser a pastora, Maria Dorotéia na vida real, mas uma figura simbólica que servia à poesia de Tomás Antonio Gonzaga. É anacronismo destinar ao sentimento existente entre o poeta e Maria Dorotéia a motivação para a confecção dos poemas, tendo em vista que esse pensamento só surgiu com o pensamento Romântico, no século XIX. É mais cabível a teoria de inspiração no ideal de emulação, que configurava o sentimento poético da época, baseado nas filosofias retórico-poéticas vigentes, em que o poeta, seguinto inúmeras regras de confecção, "imitava" os poetas antigos procurando superá-los. Muitos pouco conhecedores de literatura podem acreditar que o poeta cai em contradições, ora assumindo a postura de pastor que cuida de ovelhas e vive numa choça no alto do monte, ora a do burguês Dr. Tomás Antonio Gonzaga, juiz que lê altos volumes instalados em espaçosa mesa, mas o fazem por analisar os poemas com critérios anacrônicos à época, analisam com pensamentos surgidos após o Romantismo, textos que o precedem.
É interessante atentar para alguns aspectos dessa obra de Gonzaga. Cada lira é um dialogo de Dirceu com sua pastora Marília, mas, embora a obra tenha a estrutura de um diálogo, só Dirceu fala (trata-se de um monólogo), chamando Marília em geral com vocativos. Como bem lembra o crítico Antonio Candido, o melhor título para a obra seria Dirceu de Marília, mas o patriarcalismo de Gonzaga nunca lhe permitiria pôr-se como a coisa possuída.

Academia Brasileira de Letras

A Wikipédia possui oPortal da A.B.L.


Considerando-o brasileiro, rendeu-lhe o Sodalício Brasileiro a homenagem de ser Patrono da Cadeira 37 da Academia, onde veio depois a ter assento talentos como João Cabral de Melo Neto.

Representações na cultura
Tomás Antônio Gonzaga já foi retratado como personagem no cinema e na televisão, interpretado por Gianfrancesco Guarnieri na telenovela Dez Vidas (1969), Luiz Linhares no filme Os Inconfidentes (1972) e Eduardo Galvão no filme Tiradentes (1999).


Patrono
Sucedido porSilva Ramos - Fundador
Sobre esta escolha, registrou Afrânio Peixoto:


"A Silva Ramos, que lembrara Gonçalves Crespo, nascido no Brasil, não o permitiram, por «português», aceitando, entretanto, Gonzaga, que nascera em Portugal..."

Ver também
Arcadismo


quinta-feira, 24 de julho de 2008

Obra de Cláudio Manuel da Costa


Sonetos

Epicédio - A Morte de Salício (Epicédio II)

Fábula do Ribeirão do Carmo

Éclogas

Epístolas

Romances

Cançonetas

Cantatas

Odes

Cláudio Manuel da Costa


Cláudio Manuel da Costa (Vargem do Itacolomi, hoje Mariana, 5 de junho de 1729Vila Rica, 4 de julho de 1789) foi um jurista e poeta luso-brasileiro da época colonial [1].
Filho de João Gonçalves da Costa, português, e Teresa Ribeira de Alvarenga, mineira, nasceu no sítio da Vargem do Itacolomi, freguesia da vila do Ribeirão do Carmo, atual cidade de Mariana em Minas Gerais.
Tornou-se conhecido principalmente pela sua obra poética e pelo seu envolvimento na Inconfidência Mineira. Contudo, foi também advogado de prestígio, fazendeiro abastado, cidadão ilustre, pensador de mente aberta e mecenas do Aleijadinho. Estudou cânones em Coimbra e há quem acredite que ele tenha traduzido a obra de Adam Smith para o português, mas isso nunca foi muito bem fundamentado.

1 Vida
2 Morte
3 Conclusão
4 Representações na cultura
5 Obras:
6 Nota
7 Ver também
8 Referências


Vida
Com vinte anos embarcou para Portugal, com destino a Coimbra, em cuja Universidade se formou em cânones. Entre 1753 e 54 recolheu ao Brasil, dando-se à advocacia em Vila Rica (hoje Ouro Preto), jurista culto e renomado da época, ali exerceu o cargo de procurador da Coroa, desembargador, também exerceu por duas vezes o importante cargo de secretário do Governo. Por incumbência da Câmara de Ouro Preto elaborou "carta topográfica de Vila Rica e seu têrmo" em 1758.
Por sua idade, boa lição clássica, fama de douto e crédito de autor publicado, exerceu Cláudio da Costa ali uma espécie de magistério entre os seus confrades em musa, maiores e menores, que todos lhe liam as suas obras e lhe escutavam os conselhos, era uma das figuras principais da Capitania.
Aos sessenta anos foi comprometido na chamada Conjuração Mineira. Preso e, para alguns, apavorado com as conseqüências da tremenda acusação de réu de inconfidência, morreu em circunstâncias obscuras, em Vila Rica, no dia 4 de julho de 1789, quando teria se suicidado na prisão.
Os registros da trajetória da vida de Cláudio revelam uma bem sucedida carreira no campo político, literário e profissional. Foi secretário de vários governadores, poeta admirado até em Portugal e advogado dos principais negociantes da capitania no seu tempo. Acumulou ampla fortuna e sua casa em Vila Rica, era uma das melhores vivendas da capital. Sólida e suntuosa construção que ainda lá está a desafiar o tempo.
A memória de Cláudio Manuel da Costa, porém, não teve a mesma sorte. Até hoje paira sobre ele a suspeita de ter sido um miserável covarde que traiu os amigos e se suicidou na prisão. Outros negam até a própria relevância da sua participação na inconfidência mineira, pintando-o como um simples expectador privilegiado, amigo de Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto, freqüentadores assíduos dos saraus que ele promovia.
Cláudio tentou, ele próprio, diminuir a relevância da sua participação na conspiração, mas estava apenas tentando reduzir o peso da sua culpa diante dos juizes da devassa. Os clássicos da historiografia da inconfidência mineira são unânimes em valorizar sua participação no movimento. Parece que ele era meio descrente com as chances militares da conspiração. Mas não deixou de influenciar no lado mais intelectualizado do movimento, especialmente no que diz respeito à construção do edifico jurídico projetado para a república que pretendiam implantar em Minas Gerais, no final do século XVIII.
De qualquer modo José Pedro Machado Coelho Torres, juiz nomeado para a Devassa de 1789 em Minas Gerais, dele diz o seguinte: "O dr. Cláudio Manoel da Costa era o sujeito em casa de quem se tratou de algumas cousas repeitantes à sublevação, uma das quais foi a respeito da bandeira e algumas determinações do modo de se reger a República: o sócio vigário da vila de S. José é quem declara nas perguntas formalmente"...(Anais da Biblioteca Nacional, 1º vol. pg. 384).

Morte
Assassinato ou suicídio
O ponto mais crítico da biografia do poeta inconfidente vem a ser a suspeita do seu suicídio. Sua morte está cercada de detalhes estranhos. Há mais de duzentos anos que o assunto suscita debates e há argumentos de peso tanto a favor como contra a tese do suicídio. Os partidários da crença de que Cláudio Manuel da Costa tenha se suicidado se baseiam no fato de que ele estava profundamente deprimido na véspera da sua morte.
Isso está estampado no seu próprio depoimento, registrado na Devassa. Além disso, seu padre confessor teria confirmando seu estado depressivo a um frade que trouxe o registro à luz. Os partidários da tese de que Cláudio tenha sido assassinado, contestam tanto a autenticidade do depoimento apensado aos autos da Devassa, quanto a honestidade do registro do frade.
Quem acredita na tese do assassinato se baseia em um argumento principal: o próprio laudo pericial que concluiu pelo suicídio. Pelo laudo, o indigitado poeta teria se enforcado usando os cadarços do calção, amarrados numa prateleira, contra a qual ele teria apertado o laço, forçando com um braço e um joelho. Muitos acreditam ser impossível alguém conseguir se enforcar em tais circunstâncias.
O historiador Ivo Porto de Menezes relata que ao organizar antigos documentos relativos à Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar de Ouro Preto, em 1957 ou 1958, encontrou no livro de assentos dos integrantes da Irmandade de São Miguel e Almas, a anotação da admissão de Cláudio Manuel e à margem a observação de que havia "sufragado com 30 missas" a alma do falecido, e "pago tudo pela fazenda real". De igual forma procedera a Irmandade de Santo Antônio, que lançou em seu livro: "falecido em julho de 1789. E feitos os sufrágios." Relembra que havia à época proibição de missas pelos suicidas.
Também Jarbas Sertório de Carvalho, em ensaio publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, defende com boa documentação a tese do assassinato.
Há ainda quem acredite que o próprio governador, Visconde de Barbacena, esteve envolvido na conspiração e Cláudio teria sido eliminado por estar disposto a revelar isso. Mas o fato é que somente a tese do suicídio pôde se lastrear em documentos, ainda que duvidosos quanto a sua honestidade e veracidade, como bem salientam os adeptos da tese de assassinato.

Conclusão
Assim, a própria História continua pendente quanto às verdadeiras circunstâncias da morte de Cláudio Manuel da Costa e isso continua a ser o ponto mais marcante da sua biografia, não obstante estar sua vida plena de passagens notáveis.
Dez dias depois da sua morte, a população de Paris tomava a fortaleza da Bastilha, marcando o início do fim da dinastia dos gloriosos Luíses de França. Começava a tomar corpo então, um projeto político, sonhado pelo próprio Cláudio Manuel da Costa para seu país. Demoraria, no entanto, mais trinta anos para que o Brasil se tornasse liberto de Portugal. Cem anos a mais seriam necessários para a realização da segunda parte do sonho, a implantação do regime republicano no Brasil.
É Patrono da Academia Brasileira de Letras. Glauceste Saturnino (ou Glauceste Satúrnio), pseudônimo do autor, faz parte da transição do Barroco para o Arcadismo. Seus sonetos herdaram a tradição de Camões.

Representações na cultura
Cláudio Manuel da Costa já foi retratado como personagem no cinema e na televisão, interpretado por Emiliano Queiroz no filme "Tiradentes" (1999), Fernando Torres no filme "Os Inconfidentes" (1972) e na novela "Dez Vidas" (1969) e Carlos Vereza no filme "Aleijadinho - Paixão, Glória e Suplício" (2003).




Obras:

O Wikisource tem material relacionado a este artigo: Cláudio Manuel da Costa
Epicediu, consagrado à memória de fr. Gaspar da Encarnação - Coimbra, 1753.
Labirinto de amor, poema - Coimbra, 1753.
Númerosos harmônicos - Coimbra, 1753.
Obras Poéticas - Coimbra, 1768
Vila Rica, 1773
Soneto
Entre o Velho e o Novo Mundo
Poesias diversas - Revista Brazileira, Rio de Janeiro, 1895 (post.).
Minusculo métrico, romance heróico - Coimbra 1751


Nota
No Brasil como em Portugal era comum atribuir o gentílico "brasileiro" a uma pessoa nascida na colônia, embora hoje isto possa ser visto como um anacronismo. Durante a época colonial o Brasil era um território português, por esse motivo, os ali nascidos eram súditos e vassalos do rei de Portugal. Somente durante a primeira centúria da época colonial (XVI) o vocábulo “brasileiro” era o nome que se dava aos comerciantes de pau-brasil, sendo por isso, naquela época apenas, o nome de uma profissão. No entanto, desde muito antes da independência do Brasil, em 1822, em virtude do sentimento nativista disseminado o termo “brasileiro” já era utilizado de modo generalizado como adjetivo pátrio dos naturais do Brasil. Do ponto de vista estritamente legal apenas, só é de nacionalidade brasileira (brasileiro) quem ali nasceu depois da independência do Brasil. Mas, em geral, chamar uma pessoa que nasceu no Brasil antes da independência de brasileiro não quer significar que ela era comerciante de pau-brasil e sim que era natural do "Estado do Brasil".

Ver também
Arcadismo
Literatura do Brasil

Referências
Este artigo incorpora texto do livro História da Literatura Brasileira, de José Veríssimo, obra que está em domínio público.
Cláudio Manoel da Costa - notícia biográfica; Revista do Arquivo Público Mineiro; Ano I; Fasc. 2º; Imprensa Oficial de Minas Gerais; Ouro Preto; 1896.
Menezes, Ivo Porto. Potencialidades da pesquisa em Minas. Artigo publicado no jornal Estado de Minas. Belo Horizonte: 5 de maio de 2007.
Carvalho, Jarbas Sertório. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, nº LI.
Southey, Robert. História do Brasil. S. Paulo, Ed. Universidade de São Paulo, 1981.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

O Arcadismo


O Arcadismo é uma escola literária surgida na Europa no século XVIII. O nome dessa escola é uma referência à Arcádia, região bucólica do Peloponeso, na Grécia, tida como ideal de inspiração poética. No Brasil, o movimento árcade toma forma a partir da segunda metade do século XVIII.
A principal característica desta escola é a exaltação da natureza e de tudo que lhe diz respeito. É por isto que muitos poetas ligados ao arcadismo adotaram pseudônimos de pastores gregos ou latinos (pois o ideal de vida válido era o de uma vida bucólica).




Contexto Histórico


O arcadismo, setecentismo (os anos 1700) ou Neoclassicismo é o período que caracteriza principalmente a segunda metade do século XVIII, tingindo as artes de uma nova tonalidade burguesa. A primeira metade do século XVIII marcou a decadência do pensamento barroco, para a qual colaboraram vários fatores: a burguesia ascendente, voltadas para as questões mundanas, passou a deixar em segundo plano a religiosidade que permeava o pensamento barroco; além disso, o exagero da expressão barroca havia cansado o público, e a chamada arte cortesã, que se desenvolvera desde a Renascença, atingia um estágio estacionário e apresentava sinais de declínio, perdendo terreno para a arte burguesa, marcada pelo subjetivismo. Surgiram, então, as primeiras arcádias, que procuravam a pureza e a simplicidade das formas clássicas.
Na Itália essa influência assumiu feição particular. Conhecida como Arcadismo, inspirava-se na lendária região da Grécia antiga. Segundo a lenda, a Arcádia era dominada pelo deus Pan e habitada por pastores que, vivendo de modo simples e espontâneo, se divertiam cantando, fazendo disputas poéticas e celebrando o amor e o prazer.
Os italianos, procurando imitar a lenda grega, criaram a Arcádia em 1690 - uma academia literária que reunia os escritores com a finalidade de combater o Barroco e difundir os ideais neoclássicos. Para serem coerentes com certos princípios, como simplicidade e igualdade, os cultos literatos árcades usavam roupas e pseudônimos de pastores gregos e reuniam-se em parques e jardins para gozar a vida natural.
No Brasil e em Portugal, a experiência neoclássica na literatura se deu em torno dos modelos do Arcadismo italiano, com a fundação de academias literárias, simulação pastoral, ambiente campestre, etc.
Esses ideais de vida simples e natural vêm ao encontro dos anseios de um novo público consumidor em formação, a burguesia, que historicamente lutava pelo poder e denunciava a vida luxuosa da nobreza nas cortes.
O desejo da natureza, a realização da poesia pastoril, a reverência ao bucolismo são traços marcantes da literatura arcádica, disposta a fazer valer a simplicidade perdida no Barroco.
Fugere urbem (fuga da cidade)
Locus amoenus (lugar aprazível, ameno)
Aurea Mediocritas (mediocridade áurea - simboliza a valorização das coisas cotidianas focalizadas pela razão)
Inutilia truncat (cortar o inútil - eliminar o rebuscamento barroco)
Neoclassicismo
Pseudônimos pastoris (fingimento poético para não revelar sua identidade)
Carpe diem (aproveite o dia)

Em Portugal
D. José no trono na casa do pai João
Período Pombal (1750 a 1777)
Grandes Reformas na Economia
Aumento da exploração na colônia do Brasil
Expulsão dos jesuítas do território português
A morte de D. José, em 1777, e a queda de Pombal
D. Maria, sucessora do trono, tenta resolver os problemas, cada vez maiores, do Erário Real.
O dominio Inglês em Portugal cresce, e a dependência econômica de Portugal torna-se incontrolável.


No Brasil
Minas Gerais como centro econômico e político
A descoberta do ouro, na região de Minas Gerais, forma cidades ao redor.
Vila Rica (atual Ouro Preto) se consolida como espaço cultural desde o Barroco (Aleijadinho)
A corrida pelo ouro se intensifica.
Influências das arcádias portuguesas nos poetas brasileiros
Conflitos com o Império (Inconfidência Mineira)
O ciclo da mineração
A expulsão dos jesuítas do Brasil - (1759)
A Inconfidência Mineira(1789)

Marco Inicial

No Mundo
Criada a 1ª Arcádia pelos italianos, procurando imitar a lenda de uma cidade grega, a Arcádia.

O que era:
O arcadismo foi uma escola criada na Itália, procurando imitar a lenda grega, os italianos criaram em 1690 uma academia literária, denominada Arcádia que reunia escritores com a finalidade de combater o Barroco e difundir os ideais neoclássicos.

Em Portugal
Fundação da Arcádia Lusitana (1756)

No Brasil
Publicação das Obras Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa (1768)
Fundação da Arcádia Ultramarina em Vila Rica (atual Ouro Preto, MG)

Características
Rococó - estilo artístico situado entre o Barroco (com o qual,às vezes,é confundido) e o Arcadismo. O Rococó durou pouco mais de 35 anos. Assumiu porém, ares de padrão artístico em vários países do mundo, principalmente na américa espanhola e portuguesa.
Predomínio da razão - ênfase aos estatutos da razão, do conhecimento e da ciência. A beleza e o racional caminham lado a lado
Adoção de lemas latinos, tais como:Fugere urbem (fuga da cidade), Locus amoenus (lugar aprazível), Carpe diem (aproveita o dia), Inutilia truncat (Cortar o inútil) etc;
Pastoralismo ou Bucolismo;
Imitação de modelos artísticos greco-romanos - a obediência a regras e convenções clássicas como sinônimo de "imitação", não de cópia pura e simples. Aspectos imitados: quanto à forma (busca da perfeição formal, através da utilização de modelos literários); quanto ao conteúdo (temáticas preferenciais: amor, vida e morte, vida campestre, poesia didática ou doutrinária; recorrência à mitologia pagã);
Convencionalismo (Repetição de temas muito explorados e utilização de lugares comuns da literatura;
Idealização do amor e da mulher.

Gerais
Idéias Iluministas
Laicismo
Liberalismo
Carpe Diem
Antropocentrismo
Fugere Urbem
Bucolismo (vida bucólica = vida campestre, no campo)


Obs: Apesar do Arcadismo pregar que a vida feliz é a vida no campo e idolatrar a vida campestre e a natureza, o campo ainda é um plano de fundo, apenas. A maioria dos autores não deixam sua vida na cidade pela vida no campo.


Rigor formal
Revalorização da cultura clássica
Aurea Mediocritas
Convencionismo amoroso
Idealização do Sexo
Objetivismo
Sátira Política
Linguagem Simples
Uso dos Versos decassílabos, sonetos e outras formas clássicas
Presos à estética e à forma

No Brasil
Introdução de paisagens tropicais - Caramuru (de Frei José de Santa Rita Durão)
História colonial muito valorizada
Início do nacionalismo
Início da luta pela independência - Tomás Antônio Gonzaga("primeira cabeça da inconfidência" segundo Joaquim Silvério, delator da Inconfidência Mineira)
A colônia é colocada como centro das atenções.

Autores

Portugal
Manuel Maria Barbosa Du Bocage
Antonio Diniz Cruz e Silva
Correia Garção
Marquesa de Alorna
Francisco José Feire, o Cândido Lusitano






Arcadismo no Brasil


Ver artigo principal: Arcadismo no Brasil


Desenvolve-se no Brasil com o Arcadismo a primeira produção literária adaptada à vida da colônia, já que os temas estão ligados à paisagem local. Surgem vários autores do gênero em Minas Gerais, centro de riqueza na época. Embora eles não cheguem a criar um grupo nos moldes das arcádias, constituem a primeira geração literária brasileira.
A transição do Barroco para o Arcadismo se dá com a publicação, em 1768, do livro Obras Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa (1729-1789), um dos integrantes da Inconfidência Mineira. Entre os árcades se destacam ainda o português que viveu no Brasil e participou da Inconfidência Mineira, Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810), autor de Marília de Dirceu e Cartas Chilenas; Basílio da Gama (1741-1795), autor do poema épico O Uraguai; Silva Alvarenga (1749-1814), autor de Glaura; e Frei Santa Rita Durão (1722-1784), autor do poema épico Caramuru. Apesar do engajamento pessoal, a produção literária desses autores não está a serviço da política. A escola predomina até o início do século XIX, quando surge o Romantismo.


Literatura Brasileira - Arcadismo
Panorama da Literatura Brasileira - Arcadismo
O Arcadismo - Um pouco das Obras do perído
Arcadismo - Contexto Geral
Obtido em "http://pt.wikipedia.org/wiki/Arcadismo"

segunda-feira, 21 de julho de 2008

1. - Barroco: A Arte







O barroco brasileiro foi diretamente influenciado pelo barroco português, porém, com o tempo, foi assumindo características próprias. A grande produção artística barroca no Brasil ocorreu nas cidade auríferas de Minas Gerais, no chamado século do ouro (século XVIII). Estas cidades eram ricas e possuíam um intensa vida cultura e artística em pleno desenvolvimento.O principal representante do barroco mineiro foi o escultor e arquiteto Antônio Francisco de Lisboa também conhecido como Aleijadinho. Suas obras, de forte caráter religioso, eram feitas em madeira e pedra-sabão, os principais materiais usados pelos artistas barrocos do Brasil. Podemos citar algumas obras de Aleijadinho: Os Doze Profetas e Os Passos da Paixão, na Igreja de Bom Jesus de Matozinhos, em Congonhas do Campo (MG).Outros artistas importantes do barroco brasileiro foram: o pintor mineiro Manuel da Costa Ataíde e o escultor carioca Mestre Valentim. No estado da Bahia, o barroco destacou-se na decoração das igrejas em Salvador como, por exemplo, de São Francisco de Assis e a da Ordem Terceira de São Francisco.




ALEIJADINHO

Antônio Francisco Lisboa, mais conhecido como Aleijadinho, (Vila Rica, 29 de agosto de 1730 — Vila Rica, 18 de novembro de 1814) foi um escultor, entalhador, desenhista e arquiteto brasileiro.
É considerado o maior expoente do estilo barroco nas Minas Gerais (barroco mineiro) e das artes plásticas no Brasil, não só à época, mas durante o período colonial.
Embora não haja registros oficiais que confirmem esta circunstância de forma cabal, acredita-se que tenha nascido em Vila Rica, então capital da Capitania das Minas Gerais (hoje Ouro Preto), filho do mestre-de-obras português, que imigrara para as Minas, Manuel Francisco Lisboa, e de uma sua escrava africana, Isabel.
Por volta de 1777, quando estava empenhado na execução de seu projeto arquitetônico e na fatura das obras de arte da igreja de São Francisco de Assis, em Vila Rica, começou a desenvolver uma doença degenerativa dos membros (não se sabe ao certo se porfiria, lepra, escorbuto, reumatismo ou sífilis), que lhe comprometeu gradativamente os movimentos das mãos, chegando mesmo, segundo o relato colhido por Bretas, a perder dedos dos pés e das mãos. Para poder trabalhar, um ajudante amarrava-lhe as ferramentas aos membros. Dessa anomalia em seu corpo causada pela doença veio seu apelido, Aleijadinho.
Além da arquitetura revolucionária para a época, esta igreja contém várias de suas obras-primas: o frontispício e o medalhão da fachada, os maravilhosos púlpitos, também totalmente esculpidos em pedra-sabão, assim como o monumental lavabo da sacristia, o retábulo (altar principal) e o barrete da capela-mor, em talha dourada, no estilo rococó.
A partir de 1796, Antonio Francisco Lisboa dedica-se a produzir mais obras-primas: as esculturas, em madeira policromada, dos personagens das sete cenas da Paixão de Cristo e o 12 profetas do adro, em pedra-sabão, no Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo, Minas Gerais. Nesta igreja, como na de São Francisco de Assis de Ouro Preto, trabalhou com o outro grande artista colonial brasileiro, o pintor mulato, nascido em Mariana, Manuel da Costa Ataíde.
Já bem velho, Aleijadinho piora de saúde, e de 1812, quando ficou cego, a 1814, quem cuida dele é a sua nora Joana, que considerava-o o pai que não teve. Aleijadinho veio a falecer em 18 de Novembro de 1814, aos oitenta e quatro anos, dois meses e vinte um dias. Seu corpo foi enterrado aos pés do altar da Nossa Senhora da Boa Morte, na Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, em Ouro Preto, construída por seu pai.
Apesar de ter granjeado fama e prestígio em vida, sendo considerado o primeiro artesão colonial "a ascender à dignidade de artista", segundo Germain Bazin, Aleijadinho morreu pobre e abandonado. Mas sua obra permanece como um registro genial da grande festa do ouro, cultura e arte, nas Minas da época colonial.












domingo, 20 de julho de 2008

1.1 - O Barroco


A Literatura barroca no Brasil

Camila Hallack Loures
Raquel Ruff Peixoto*

Introdução

Esse trabalho tem por objetivo apresentar aspectos gerais da literatura barroca principalmente no Brasil. Cabe ressaltar que o mesmo se propõe a mostrar o momento histórico o qual o barroco fez parte, enchendo o período entre o século XVI e o século XVIII em todos os povos do ocidente. É importante observar que não se pretende esgotar o assunto, nem mesmo em relação à literatura barroca brasileira, visto que a bibliografia é muito extensa. No entanto, o interesse nesse trabalho está em mostrar o barroco não só como um estilo artístico e literário, mas também, um estilo que perdura em outras épocas.
Este trabalho pretende enveredar pela literatura barroca no Brasil, no sentido de mostrar heranças e limites cronológicos, as principais características e seus principais representantes da época, bem como a repercussão do estilo literário barroco utilizado por demais artistas do mundo contemporâneo.
Para cumprir esses objetivos, o método utilizado foi de uma pesquisa bibliográfica sobre o conceito da arte barroca literária brasileira junto à utilização de diferentes livros poéticos.
A arquitetura deste trabalho está assim organizada: no primeiro capítulo, situam-se fragmentos da história do estilo barroco no ocidente, incluindo-se a questão do barroco no Brasil e sua origem; no segundo capítulo, discute-se as heranças e limites cronológicos da literatura barroca; no terceiro capítulo, verifica-se as principais características da linguagem barroca; no quarto capítulo, são observados os principais representantes da literatura barroca no Brasil; no quinto capítulo, comenta-se da utilização do estilo literário barroco na atualidade. Na conclusão, apresentam-se propostas de intervenção e possíveis possibilidades de continuidade do estilo barroco no mundo contemporâneo, não somente na literatura, mas em suas várias outras representações artísticas, mostrando que o barroco pode ser visto como um estilo de vida.

1 - O momento histórico do barroco e sua origem

1.1 - O momento histórico do Barroco
O barroco é um estilo que se manifestou em várias formas de arte na América Latina e na Europa Ocidental, da metade do século XVI ao final do século XVII.
Há uma atmosfera cultural comum naquela época graças às circunstâncias históricas. Quaisquer que sejam essas diferenças nacionais ou individuais na expressão do fenômeno barroco há entre as variadas manifestações, atributos comuns que fazem dele um fenômeno universal durante o século XVII.
Comparado aos outros dois movimentos que integram a Era Clássica, o Classicismo e o Arcadismo, o barroco representa um desvio da orientação clássica, já que procurava, ao mesmo tempo, unir a experiência renascentista ao reavivamento da fé cristã medieval. Punha em risco, assim, certos princípios muito prezados pela tradição clássica, como o predomínio da razão e o equilíbrio.
Assim, o barroco tenta conciliar duas concepções de mundo opostas: a medieval e a renascentista.
O período histórico no qual o movimento barroco se desenvolve apresenta características de um contexto de autoritarismo político, com o absolutismo, que foi o sistema político baseado na centralização absoluta do poder nas mãos do rei. Vive-se um momento de expansão, com a revolução comercial, cuja política econômica, o Mercantilismo, se baseava no metalismo, na balança comercial favorável e no acúmulo de capitais. Ocorre também, a luta de classes onde a burguesia, por deter forte poder econômico, pressionava politicamente a nobreza e o Rei, a fim de participar das decisões políticas do Estado Absolutista. Concomitantemente, a arte barroca eclode desse estado de turbulência, mudanças radicais e crises religiosas.
O barroco na arte marcou um momento de crise espiritual da sociedade européia. O homem do século XVII era dividido em duas mentalidades, duas formas diferentes de ver o mundo. Por isso o estilo barroco é um dos mais complexos que podem ser estudados na literatura brasileira.
O homem barroco vivia diante desse dilema entre o céu e a terra, o pecado e a salvação, a mística e a sensualidade, a santidade e o liberalismo, só havendo uma saída: conciliar os pólos opostos. Sua alma ficou assim, uma alma agônica, polarizada entre opostos, paradoxal. Toda literatura barroca testemunha esse estado de alma.
Convivendo com o sensualismo e os prazeres materiais trazidos pelo Renascimento, os valores espirituais tão fortes na Idade Média voltaram a exercer forte influência sobre a mentalidade da época. Uma nova onda de religiosidade foi trazida pela Contra-reforma e pela fundação da companhia de Jesus. O que decorreu daí foram naturalmente sentimentos contraditórios, já que o homem estava dividido entre valores opostos. E a arte barroca, que exprime essa contradição, igualmente oscila entre o clássico e pagão e o medieval e cristão, apresentando-se como uma arte indisciplinada.
Assim, valores como o humanismo, o gosto pelas coisas terrenas, as satisfações mundanas e carnais, trazidos pelo renascimento, que era caracterizado pelo racionalismo, equilíbrio e clareza e linearidade dos contornos, fundem-se a valores espirituais trazidos pela contra-reforma, com idéias medievais, teocêntricas e subjetiva. Nasce então uma forma de viver conflituosa expressa na arte barroca.
Politicamente, o homem da época sentia-se oprimido economicamente, contudo, sentia-se livre para enriquecer com a possibilidade de ascensão social.
No plano espiritual, igualmente se verificaram contradições: ao lado das conquistas e dos valores do renascimento e do mercantilismo - que possibilitou a aquisição de bens e prazeres materiais - a contra-reforma procurava restaurar a fé cristã medieval e estimular a vida e os valores espirituais.
Por esse conjunto de razões é que na linguagem barroca, tanto na forma quanto no conteúdo, se verifica uma rejeição constante na visão ordenada das coisas. Os temas são aqueles que refletem os estados de tensão da alma humana, tais como vida e morte, matéria e espírito, amor platônico e amor carnal, pecado e o perdão. A construção da linguagem barroca acentua e amplia o sentido trágico desses temas, ao fazer o uso de uma linguagem de difícil acesso, rebuscada, cheias de inversões e de figuras de linguagem. Outros temas que são facilmente encontrados são o sobrenatural, castigos, misticismo e arrependimento.
A época da Contra-reforma, e do barroco é principalmente marcado por uma profunda dualidade. Por um lado, é o desdobramento do humanismo clássico e do Renascimento, com seus apelos ao racionalismo, ao prazer, ao "carpe diem" (do latim, "aproveite o dia"). Por outro lado, o homem é pressionado pela igreja católica e pelo protestantismo, mas vigoroso a um regresso ao teocentrismo medieval, à postura estóica, a renuncia aos prazeres, à mortificação da carne e à observância plena do "amar a Deus sobre todas as coisas", princípio capitular do teocentrismo medieval.
O homem do século XVII foi compelido a conciliar o Teocentrismo Medieval e o Antropocentrismo Clássico. Valemo-nos da apreciação do Prof. Afrânio Coutinho:
O homem do barroco é um saudoso da religiosidade medieval e, ao mesmo tempo, um seduzido pela solicitações terrenas e valores mundanos, amor, dinheiro, luxo, posição que a renascença e o humanismo puseram em relevo. Desse dualismo nasceu a arte barroca.
É notório que, se a literatura é a expressão do homem e de seu tempo, o estilo barroco haveria de refletir as angústias, as incertezas e o desespero daqueles que viveram essa época. Fruto da síntese de duas mentalidades, a medieval e a renascentista, o homem do século XVII era um ser contraditório, tal qual a arte pela qual se expressou.

1.2 - A origem da palavra barroco:
A origem da palavra barroco tem suscitado muitas divergências. Dentre as várias posições, a mais aceita é de que a palavra se teria originado do vocabulário espanhol barrueco, vindo do português arcaico e usado pelos joalheiros desde o século XVI, para designar um tipo de "pérola irregular" e de formação defeituosa, aliás, até hoje conhecida por essa mesma denominação. Depois a etimologia da palavra barroco teria sua origem na escolástica medieval, sob a forma baroco, designando um tipo de raciocínio sem sentido, falso.
Os críticos e historiadores de arte definiam como uma estética de decadência, uma característica subsequente ao Renascimento. Era em suma, uma forma degenerada da arte renascentista, expressa pela perda do senso de clareza.
A posição mais recente, que se abre com os estudos de Heinrich Wolfflin (1864-1945)2, tende a ver no barroco uma constante universal na arte, expressiva dos períodos marcados por graves conflitos espirituais, e cujo a essência é a irregularidade, o retorcimento, o exagero e Heinrch Wolfflin logrou formular em termos definitivos a reinterpretação do estilo barroco em arte. Depois dele a arte ficou revalidada, não mais concebendo-se como uma forma degenerada, mas sim, um período peculiar da história da cultura, com valor estético e significados próprios.

2 - Beranças do barroco no Brasil e limites cronológicos da literatura barroca brasileira

2.1 - Heranças do Barroco no Brasil:
O barroco foi um movimento estético criado na Espanha no século XVI, quando Portugal estava sob o poder Espanhol e contra ele reagia. A luta era política pela restauração, mas naturalmente se estendia a tudo o que fosse de cunho espanhol, como o barroco, de espírito contrário à tradição artística lusa.
Enquanto isso, os brasileiros nada tinham contra os espanhóis, por isso os escritores daqueles séculos absorverem o espírito espanhol: Anchieta, Gregório de Matos, Padre Antônio Vieira, Botelho de Oliveira e outros.
No Brasil do século XVIII, a adoção do estilo barroco vincula-se certamente com o descobrimento de minas e a conseqüente riqueza de algumas camadas da população. O barroco brasileiro coincidiu com o nascimento da consciência nacional, ao mesmo tempo que a favoreceu. Contando com o apoio dos protetores das artes - paróquias, confrarias e associações religiosas - tornou-se a primeira possibilidade de expressão artística do país.
A Bahia é considerada essencialmente Barroca. O barroco brasileiro, criado pelos jesuítas da Contra-reforma no século XVI, é o espírito da conciliação e da fusão dos contrários. A Bahia também nasceu nesse século e adquiriu assim, todo o espírito barroco, fundiu brancos, negros, fez uma religião mista, a vida social, a comida, a música, uma linguagem.
O barroco tem a vantagem de ser um termo único, além de traduzir, por si próprio as características estéticas e estilísticas que a época encerra. De maneira geral, o barroco é um estilo identificado com uma ideologia, que busca traduzir um conteúdo espiritual.

2.2 - Limites cronológicos da literatura barroca no Brasil:
Fica difícil estabelecer limites para uma escola literária, já que as idéias vão mudando com o tempo e as gerações, gradual e lentamente. Mas, didaticamente, considera-se que o barroco surgiu no Brasil com a obra Prosopopéia de 1601, poema épico de autoria do português, radicado no Brasil, Bento Teixeira Pinto.3 Sendo esta, a primeira obra dita literária, escrita entre nós.
O limite final para essa escola, foi o ano de 1768, com a publicação de Obras Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa, que no entanto, seria um poeta árcade. Porém, como o barroco no Brasil só foi mesmo reconhecido e praticado em seu final, entre 1720 e 1750, quando foram fundadas várias academias literárias4, desenvolveu-se uma espécie de barroco tardio nas artes plásticas, o que resultou na construção de igrejas de estilo barroco durante todo o século XVIII. As obras de Aleijadinho são o grande exemplo disso.
3 - Principais características da linguagem barroca
As obras de arte têm como ponto de partida a utilização da realidade concreta do mundo. Os barrocos valorizam a percepção sensorial da realidade, empregam freqüentemente palavras que designam cores (visão), perfumes (olfato), sensações táteis (tato), ou seja, buscam refletir a desarmonia do mundo barroco. Essa apreensão da realidade pelos sentidos expressa-se sobretudo através do emprego de muitas figuras de estilo: antíteses, paradoxos, hipérboles, anáforas, hipérbatos, anadiploses, metáforas, perífrases e outras.
Neste capítulo serão apresentadas as principais características utilizadas na linguagem barroca: o requinte formal, o conflito espiritual, o culto do contraste, a efemeridade do termo e Carpe diem, o paganismo, o dualismo, o cultismo ou gongorismo, a linguagem rebuscada, o conceptismo e a ironia.
Algumas características da linguagem barroca merecem especial atenção pela sua peculiaridade e pelo uso que foi sendo feito de algumas delas em escolas posteriores:
O Requinte formal revela o nível lingüístico altamente sofisticado dos textos barrocos. Apresentam construções sintáticas elaboradas, vocabulários de nível elevado. O barroco Literário foi uma arte da aristocracia e esse refinamento era desejado por seu público consumidor, porque lhe conferia status.

PONDERAÇÃO DO ROSTO E OLHOS DE ANARDA

Nos olhos e nas faces mais galhardas
Ao céu prefere quando inflama os raios,
E prefere ao jardim,
Se as flôres aguarda:
Enfim, dando ao jasmim e ao céu desmaios,
O céu ostenta um sol, dois sóis Anarda,
Um maio o jardim logra; ela dois maios.5

O conflito espiritual era latente ao homem barroco, que sentia-se dilacerado e angustiado diante da alteração dos valores, dividindo-se entre o mundo espiritual e o mundo material. As figuras que melhor expressam esse estado de alma são a antítese e o paradoxo.
A Brevidade dos gostos da vida, em contemplação dos mais objetos
Nasce o Sol; e não dura mais que um dia:
Despois da Luz, se segue a noite escura:

Em Tristes sombras morre a Formosura;
em contínuas tristezas a alegria.
Porém, se acaba o Sol,
Por que nascia?

Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto, da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza;

na Formosura, não se dê constância:
E na alegria, sinta-se a tristeza.
Comece o mundo, enfim, pela ignorância;
pois tem qualquer dos bens, por natureza,
a firmeza somente na inconstância.6

O culto do contraste está presente nas idéias barrocas confrontando elementos como amor e sofrimento, vida e morte, juventude e velhice, ascetismo e mundaneidade, carne e espírito, religiosidade e erotismo, realismo e idealismo, naturalismo e ilusionismo, céu e terra, pecado e perdão numa tentativa de conciliar pólos opostos até aqueles então considerados irreconciliáveis: a razão e a fé.
O espírito barroco é cabalmente expresso no célebre dilema do 3º ato de Hamlet, de Shakespeare: "To be or not to be, that is the question". ("Ser ou não ser, eis a questão...").7
Tem-se a vasta utilização da efemeridade do tempo e carpe diem: o homem barroco tem consciência de que a vida terrena é passageira, e por isso, é preciso pensar na salvação espiritual. Mas, já que a vida é passageira, sente ao mesmo tempo, desejo de gozá-la antes que acabe, o que resulta num sentimento contraditório, já que gozar a vida implica em pecar, e se há pecado, não há salvação.
Pretendendo o poeta moderar o excessivo sentimento de Vasco de Sousa de Paredes, na morte da dita sua filha.

Para que é mais idade, ou mais um ano
Em quem, por privélegio e natureza,
Nasceu flor, a que um sol faz tanto dano!?
Nossa prudência, pois, em tal dureza
Não sinta a dor, e tome o desengano
Que um dia é eternidade da beleza.8

Assim, como tudo na vida a beleza também é efêmera. O texto se serve de imagens plásticas para mostrar isso: "que um dia é eternidade da beleza". Desta forma, o tempo atua sobre o ser humano conduzindo-o à decadência.
Essa imagem que vai da "flor" ao "dano" põe ante os olhos do leitor, a sua imaginação e revela os conceitos de decadência e transitoriedade da beleza e da vida.
O paganismo é uma característica da linguagem barroca que aparece em alguns textos buscando um traço do Classicismo e da Cultura greco-romana, no qual, os deuses da mitologia pagã aparecem para representar um sentimento ou um tema abstrato qualquer:

EXPRESSÕES AMOROSAS A ÜA DAMA A QUEM QUERIA

Enquanto com gentil descortesia,
o ar, que fresco Adónis te namora,
te espalha a rica trança brilhadora,
quando vem passear-te pela fria.9

Adónis(ou Adonai) é um ente mitológico que representa a grande beleza e a vaidade.
O dualismo encontrado na linguagem barroca, se desenvolve em torno da transitoriedade da vida, da fulgacidade das coisas e do sentimentos contraditórios que envolve a natureza humana. A dualidade característica na arte na época barroca foi uma maneira de extravasar, de tentar mostrar como se sentia o homem da época colocado entre dois extremos.

DEFENDENDO O BEM PERDIDO

O bem, que não chegou a ser possuído
perdido causa tanto sentimento,
que faltando-lhe a causa do tormento,
faz ser maior tormento o padecido
Sentiu o bem logrado já perdido,
mágoa será do próprio entendimento:
porém, o bem que perde em pensamento
não deixa o outro bem restituído.10

O jogo de palavras Cultismo ou Gongorismo são características da linguagem barroca que receberam essas denominações na Península Ibérica, e em colônias ultramarinas. Seria um aspecto do barroco voltado para o rebuscamento da forma, para a ornamentação exagerada do estilo. O termo cultismo deriva da obsessão barroca pela linguagem culta, erudita, e o gongorismo alude ao autor espanhol Luís de Gongora11, expoente maior desse procedimento literário, criador de uma verdadeira escola que tem como seguidores, entre nós, Manuel Botelho de Oliveira e, em alguns momentos, Gregório de Matos Guerra.
O aspecto exterior imediatamente visível no Cultismo ou Gongorismo é o abuso no emprego de figuras de linguagem: metáforas, antíteses, hipérboles, hipérbatos, anáforas, anadiploses, paronomásias, quiasmos e sonoras.
O cultismo explora, também através do jogo de palavras, efeitos sensoriais, tais como cor, forma, volume, sonoridade, imagens violentas e fantasiosas, enfim, recursos que sugerem a superação dos limites da realidade, ou seja, uma percepção sensorial da realidade:
A uns mártires penduravam pelos cabelos, ou por um pé, ou por ambos, ou pelos dedos, polegares, e assim, no ar, despidos, batiam e martelavam com tal força e continuação, os cruéis e robustos algozes (carrascos), que ao princípio açoitavam os corpos, depois desfiavam as mesmas chagas (feridas) , ou uma chaga até que não tinha já que açoitar nem ferir. A outros estirados e desconjuntados no ecúleo (instrumento de tortura), ou estendidos na catasta, (cadafasto, em forma de leito, feito em grades, em que se torturavam os mártires) aravam os membros com pentes e garfos de ferro, a que propriamente chamavam escorpiões, ou metidos debaixo de grandes pedras de moinho, lhes espremiam como um cardar (pentear) o sangue, e lhe moíam e imprensavam os ossos, até ficarem com uma pasta confusa, sem figura, nem semelhança do que dantes eram. A outros cobriam todos de pez (breu, piche), resina e enxofre, e ateando-lhes o fogo, os faziam arder em pé como tochas ou luminárias, nas festas dos ídolos, esforçando-os para este suplício como lhes dar a beber chumbo derretido.1
Neste fragmento, podemos perceber claramente a tentativa de Pe. Vieira de fazer o leitor sentir o que ele descreve, como uma forma de persuadir seus ouvintes a não se envolverem com idéias de reforma religiosa (o protestantismo). Para isso, toma como exemplo a persistência religiosa dos mártires da Igreja Católica e descreve com extrema figuração como eram torturados esses mártires.
Essa supervalorização da forma é mais comum na poesia. Observe no fragmento seguinte o extremo cuidado formal que leva o poeta a agendrar um esquema no qual o final de cada verso repete-se no início do seguinte:

PECADOR CONTRITO AOS PÉS DE CRISTO CRUCIFICADO

Ofendi-vos, meu Deus, é bem verdade;
verdade é, meu Senhor, que hei delinqüido,
delinqüido vos tenho, e ofendido;
ofendido vos tem minha maldade.1

O conceptismo ocorre sobretudo na prosa. Corresponde ao jogo de idéias à organização da frase com uma lógica que visa ensinar e convencer. É a supervalorização do raciocínio agudo:
Para um homem se ver a si mesmo são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelhos e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há de existir mister luz, há mister espelho, e há mister olhos.1
Ironia do grego cióneia, ‘interrogação’1 consiste em dizer o contrário do que está pensando ou em questionar, satirizar certo tipo de comportamento com a intenção de ridicularizar, de dar ênfase a algum aspecto passível de crítica:

Aos Sres. Governadores do mundo em seco da cidade Bahia e seus costumes:
A cada canto um grande Conselheiro,
que nos quer governar cabana e vinha:
Não sabem governar sua cozinha,
e querem governar o Mundo inteiro!1

A partir deste ponto estaremos conceituando e exemplificando algumas figuras de estilo fundamentais para o entendimento da literatura barroca:
A antítese que significa do grego anti, ‘contra’ + thesis, ‘afirmação’1, é uma figura de pensamento que consiste no emprego de palavras numa oração ou período que se opõem quanto ao sentido: bem x mal, branco x preto, claro x escuro. É a figura mais comum do barroco, reflete a contradição enfrentada pelo homem da época, seu dualismo e a luta de forças opostas que o arrastam:

Defendendo o Bem Perdido:
O bem, que não chegou ser possuído,
perdido causa tanto sentimento,
que faltando-lhe a causa do tormento,
faz ser maior tormento o padecido.
Infalível será ser homicida
o bem, que sem ser mal, motiva o dano;
o mal, que sem ser bem apressa a morte.18

O paradoxo é uma figura de linguagem mais radical que a antítese. Poderia ser definido como emprego de idéias numa oração ou período que se opõe quebrando a lógica, ou seja, resultando na apreensão da realidade através dos sentidos:

Ardor em firme coração nascido;
Pranto por belos olhos derramados;
Incêndio em mares de água desfarçado;
Rio de neve em fogo convertido.19

Hipérbole que significa do grego hyperbolè, ‘lançar sobre’20, é uma figura de linguagem também conhecida como intensificação, é a figura de pensamento que consiste na ênfase resultante do exagero deliberado, quer no sentido negativo, quer no positivo. É uma forma de exagerar a verdade, mas com respeito a beleza, seja por amplificação, seja por atenuação. É o que ocorre em expressões cotidianas como "morreu de rir", "morto de fome", "já te disse quatrocentas bilhões de vezes...", ou em construções literárias como:
"rios te correrão dos olhos se chorares ..."21
A hipérbole traduz a grandiosidade, a ostentação do mundo barroco. É uma figura que engrandece ou diminui exageradamente a verdade das coisas.

Anarda passando o tejo em uma barca
meu peito também, que chora
de Anarda ausências perjuras,
o pranto em rio transforma
o suspiro em vento muda.22

A anáfora que vem do grego ana, ‘repetição’ + phorá, ‘que conduz’23, é uma figura de construção que consiste na repetição intencional de uma ou mais palavras no início de vários versos:

Buscando a Cristo
crucificado um pecador, com verdadeiro arrependimento.

A vós correndo vou, Braços sagrados,
nessa Cruz sacrossanta descobertos;
que para receber-me estais abertos,
e por não castigar-me estais cravados.

A vós, Divinos olhos, eclipsados,
de tanto sangue e lágrimas cobertos;
pois para perdoar-me estais despertos,
e por não condenar-me estais fechados.

A vós, pregados os Pés, por não deixar-me:
A vós, Sangue vertido, para ungir-me:
A vós, Cabeça baixa, por chamar-me:

A vós, Lado patente, quero unir-me:
A vós, Cravos preciosos, quero atar-me,
ara ficar unido, atado e firme.24

A Anáfora também pode ocorrer na prosa, quando iniciamos as orações ou períodos por uma mesma palavra ou locução. Observando:

Quando fazem os ministros, o que fazem?
Quando respondem? Quando deferem?
Quando despacham? Quando ouvem?25

O hipérbato que significa do grego hipérbaton, ‘inversão’26, é a figura sintática de construção que consiste numa inversão violenta da ordem direta da frase. Citam-se, como exemplo notório, os versos iniciais do hino nacional:

"Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heróico o brado retumbante..."27

Na ordem direta da frase ficaria: "As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heróico".
O hipérbato resulta em certa dificuldade de leitura, como se verifica nos quatro primeiros versos do poema de Gregório de Matos:

É a vaidade, Fábio, nesta vida
Rosa, que de manhã lisonjeada,
Púrpuras mil, com ambição dourada,
Airosa rompe, arrasta presumida.28

Rescrevendo-os em ordem direta, teríamos: "Fábio, a vaidade nesta vida é rosa que, lisonjeada de manhã, arrasta presumida mil púrpuras e rompe airosa com ambição doirada".
A anadiplose é uma figura de construção que consiste na reiteração dos termos finais de um verso ou oração, no início do verso subseqüente. Essa figura de construção é bem clara no poema de Gregório de Matos Guerra:
Retrato de D. Brites, uma formosa dama na Bahia, de quem o Autor se namorou, e tratou vários tempos:

No peito, desatina o Amor cego,
Cego só pelo amor do vosso peito,
Peito em que o cego Amor não tem sossego;
Sossego por não ver-lhe amor perfeito;

Perfeito, e puro amor em tal emprego;
Emprego, assemelhando à causa o efeito;
Efeito, que é mal feito ao dizer mais
Quando chega o Amor a extremos tais.29

A metáfora, que significa do grego meta: ‘mudança’, + phora: ‘transporte’, é a figura de palavra em que se emprega um termo por outro, mantendo-se entre eles uma relação de semelhança; é uma espécie de "comparação abreviada", como em "Seus olhos são esmeraldas" isto é, seus olhos são verdes. A metáfora foi assim definida por Aristóteles: "consiste em transportar para uma coisa o nome da outra (...) uma espécie de comparação, a qual, falta a locução comparativa".30

"Dos Desenganos da vida humana"

É a vaidade, Fábio, nesta vida (1)
Rosa, que de manhã lisonjeada, (2)
Púrpuras mil, com ambição dourada,(3)
Airosa rompe, arrasta presumida.(4)

É planta, de que abril favorecida, (5)
Por mares de soberba desatada, (6)
Florida galeota empavesada, (7)
Sulca ufana, navega destemida. (8)

É nau enfim, que em breve ligeireza, (9)
Com presunção de Fênix generosa,(10)
Galhardias apresta, alentos preza: (11)
Mas ser planta, ser rosa, ser nau vistosa (12)
De que importa, se aguarda sem defesa (13)
Penha a nau, ferro a planta, tarde a rosa? (14)31

O próprio título do soneto, "Dos Desenganos da vida humana", metaforicamente, alude ao emprego intensivo da metáfora.
O poema se entretece a partir de três metáforas da vaidade: rosa, planta, nau (navio), que tem duração efêmera, ainda que si suponham eternas. Primeiramente, são mostradas as qualidades de cada um desses elementos metafóricos. Como a rosa, a vaidade "rompe airosa" (elegante); como a planta favorecida pelo mês de abril (quando é primavera na Europa), ela segue rapidamente feito uma "galeota empavesada" (embarcação enfeitada); como uma nau ligeira, preza alentos e galhardias ( elogios e elegâncias).

Observe que as metáforas são colocadas nos versos 2, 5 e 9 e, após retomadas nos versos 12 a 14, quando, no último terceto, o poeta as dispõe em ordem decrescente, inversa: a penha (pedra) destrói a nau, assim como o ferro (instrumento de corte qualquer) destrói a planta e a tarde (o tempo que passa) destrói a rosa.

A conclusão a que se chega, portanto, é que a vaidade é frágil e efêmera.
A metaforização intensiva do texto barroco estabelece, quase sempre, uma identificação sensorial resultando no aspecto cromático e criando associações surpreendentes. Assim, o poeta barroco diz: "os marfins da boca" ao invés de dentes, "o zéfiro manual" (vento suave) ao invés de leque, "a língua dos olhos", ao invés de lágrimas, "rubi", ao invés de sangue.32

A perífrase é uma figura de linguagem também denominada circunlóquio, é a figura de pensamento que consiste na substituição de uma palavra por uma série de outras, de modo que estas se refiram àquela, indiretamente. Utilizada, em geral, para evitar a monotonia das expressões gastas ou para criar novas relações metafóricas, é o que ocorre em: "Graças à onipotência de quem devemos a criação do Universo", que significa simplesmente "Graças a Deus".33

4- Principais representantes da literatura barroca no Brasil
Apresentam-se neste capítulo, os principais autores e obras da Literatura barroca no Brasil.
Para se entender um pouco em que contexto se passou a era do estilo barroco, vão ser abordados aspectos gerais da vida de alguns autores e suas obras:
4.1 - Gregório de Matos Guerra:
Nascido em Salvador na Bahia, em 20 de dezembro de 1633, entrou para o Colégio dos Jesuítas da Bahia com catorze anos e, revelando grande argüição nos estudos, os pais mandam-no estudar Direito em Coimbra. Tornou-se Bacharel Formado, viveu alguns anos em Lisboa exercendo a profissão, ocupando vários cargos na magistratura portuguesa. Porém, o caráter irreverente de suas sátiras provocou sua expulsão dessa cidade. Nesse tempo, casou-se e enviuvou. Voltou então ao Brasil desiludido. Em Salvador levou vida desregrada, compondo poemas satíricos e tendo famosos encontros amorosos com freiras. A intensidade de suas sátiras justificou o apelido com que ficou sendo conhecido: Boca do Inferno. Em sua terra natal, é convidado a trabalhar com os jesuítas no cargo de tesoureiro-mor da Companhia de Jesus. Em 1694, casa-se novamente com a viúva Maria de Povos, inspiradora de alguns de seus poemas líricos. Após esse período, abandona os padres e é degredado para Angola; já bastante doente, retorna ao Brasil um ano depois, mas sob duas condições: estava proibido de pisar em terras baianas e de apresentar suas sátiras. Morreu em Recife, no ano de 1696; com 59 anos foi enterrado na Capéla do Hospício de Nossa Senhora da Penha. Demolida a Capela, não restou nenhum vestígio de Gregório de Matos Guerra.
Nunca em vida Gregório de Matos publicou um livro, e suas poesias colecionadas e publicadas apenas por seus admiradores, sobrevive até hoje em antologias. A principal antologia foi à feita pela ABL no começo do século. As suas composições poéticas denotam um ódio verrinoso com alternância de religiosidade e arrependimento.
Apesar de ser conhecido como poeta satírico, Gregório de Matos, também praticou, e com esmero, a poesia religiosa e a lírica. Podemos ressaltar que ele utilizava do estilo conceptista mais do que o cultista, apresentando jogos de palavras ao lado de raciocínios sutis, sempre com o uso abusivo de figuras de linguagem:

Aos vícios

Eu sou aquele que os passados anos
Cantei na minha lira maldizente
Torpezas do Brasil, vícios e enganos.34

A sátira de Gregório não se voltou apenas contra as situações, instituições, mas também para pessoas: fidalgos, mulatos, gente do povo e do governo, todos são objetos do seu escárnio.
Assim se define Gregório no início da poesia "Aos vícios". E, realmente, na poesia satírica procura satirizar o brasileiro, o administrador português, el-rei, o clero e, numa postura moralista, os costumes da sociedade baiana do século XVII. É patente um sentimento nativista quando ele separa o que é brasileiro do que é exploração lusitana.
Na poesia lírica e religiosa, deixa claro certo idealismo renascentista, colocado ao lado do conflito entre o pecado e o perdão, buscando a pureza da fé, mas, tendo ao mesmo tempo, necessidade de viver a vida mundana. São essas contradições que o situam perfeitamente na escola barroca.
Sua obra permaneceu inédita até o século XX, quando a Academia Brasileira de Letras, entre 1923 e 1933, publicou seis volumes, assim distribuídos: I. Poesia sacra; II. Poesia lírica; III. Poesia graciosa; IV e V. Poesia satírica; e VI. Últimas.

A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR

Pequei, Senhor: mas não porque hei pecado,
da nossa alta Piedade me despido:
antes, quanto mais tenho delinqüido,
vos tenho a perdoar mas empenhado.
(...)
Eu sou, Senhor, Ovelha desgarrada;
cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino
perder na vossa Ovelha a vossa glória.
Gregório de Matos.

Neste poema, temos um excelente exemplo de conceptismo:
Se pecou ele é a ovelha desgarrada do rebanho; o pecado não deve ser somente motivo de castigo, mas razão para que o Pastor Divino se empenhe em recobrar sua "ovelha". Para tanto deve perduar-lhe o pecado. O poeta aldaciosamente, dá um conselho a Cristo: que ele não queirra perder a glória e infinita bondade que é a capacidade divina de perduar. Caso contrário, deixando perdersse, perderá com ele a glória do perdão.36

4.2 - Padre Antônio Vieira:

Padre Antônio Vieira, nasceu em Lisboa, em 1608. Aos sete anos parte com a família
para a Bahia, no Brasil, onde o pai exercia a função de secretário da Governação.
Estuda no colégio jesuíta da Bahia e ingressa em 1623, na Companhia de Jesus, recebendo ordens em 1635 e iniciando nessa altura o seu trabalho como pregador. Em 1641, parte para Lisboa com o governador para apresentar ao rei D. João IV, de quem se tornaria confessor, a adesão à causa da Restauração. Este foi um movimento pelo qual Portugal liberta-se do domínio espanhol. O rei encarregou-o de várias missões diplomáticas na Holanda e em Roma. Não sendo bem sucedido nestes encargos, regressou novamente ao Brasil e dedicou-se à missionação dos índios. Politicamente, Vieira tinha contra si a pequena burguesia cristã, por defender o capitalismo judaico e os cristãos-novos; os pequenos comerciantes, por defender um monopólio comercial; os administradores e colonos, por defender os índios. Após a morte de D. João IV, essas posições tomada por Vieira, principalmente a defesa dos cristãos-novos, lhe custam uma condenação pela Inquisição. Fica preso de 1665 a l667. Com a subida ao trono de D. Pedro II, Padre Antônio Vieira é absolvido.
Depois, regressa definitivamente à Bahia, onde morre com quase 90 anos de idade, no Colégio da Bahia.
O padre Antônio Vieira foi missionário, pregador, diplomata, político e escritor.
Sua obra pode ser dividida da seguinte maneira:
Profecias: constam de três obras: História do futuro, Esperanças de Portugal e Clavis prophetarum, em que se notam o Sebastianismo e as esperanças de Portugal se tornar o Quinto Império do Mundo, pois, tal fato estaria escrito na Bíblia. Isso demonstra seu estilo alegórico de interpretação bíblica, um nacionalismo megalomaníaco e uma servidão incomum, própria dos Jesuítas.
Cartas: são cerca de 500 cartas, que versam sobre o relacionamento entre Portugal e Holanda, sobre a Inquisição e os cristãos-novos e sobre a situação da Colônia. Constituem importantes documentos históricos.
Sermões: Os sermões buscam arrebatar o ouvinte para despertar sua consciência, convidando-o a pensar e a agir. Visando a esse objetivo o jesuíta geralmente estabelece analogias entre o presente vivo e a Bíblia. São quase 200 sermões, o melhor da obra de Vieira. De estilo barroco conceptista, totalmente oposto ao Gongorismo, o predador português joga com as idéias e os conceitos, segundo os ensinamentos da retórica dos jesuítas. Um de seus principais sermões é o Sermão da sexagésima, pregado na Capela Real de Lisboa em 1655 e conhecido também por A palavra de Deus. O Sermão da Sexagésima, de caráter metalingüístico, versa sobre a arte de pregar em suas dez partes. Nele Vieira usa de uma metáfora: pregar é como semear. Traçando paralelos entre a parábola bíblica sobre o semeador que semeou nas pedras, nos espinhos (onde o trigo frutificou e morreu), na estrada (onde não frutificou) e na terra (que deu frutos), Vieira critica o estilo de outros pregadores contemporâneos seus (e que muito bem caberia em políticos atuais), que pregavam mal, sobre vários assuntos ao mesmo tempo (o que resultava em pregar em nenhum), ineficazmente e agradavam aos homens ao invés de pregar servindo a Deus.
Dentre suas obras mais conhecidas, destacam-se ainda: Sermão pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda: pregado na Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, Bahia, em 1640. Vieira incita o povo a combater os holandeses falando sobre os horrores e depredações que os protestantes fariam: "entrarão por esta cidade com fúria de hereges e vencedores, não perdoarão o estado, o sexo nem a idade". Há também, o Sermão de Santo Antônio, chamado de Sermão aos peixes: sobre os colonos que aprisionavam índios.
Sermão da sexagésima:

Será por ventura o estilo que hoje se usa nos púlpitos? Um estilo tão dificultoso, um estilo tão afetado, um estilo tão encontrado a toda parte e a toda natureza? Boa razão é também esta. O estilo há de ser muito fácil e muito natural. Por isso, Cristo comparou o pregar ao semear. Compara Cristo o pregar ao semear, porque o semear é uma arte que tem mais de natureza que de arte.
Já que falo contra os estilos modernos, quero alegar por mm o estilo do mais antigo pregador que houve no Mundo. E qual foi ele? O mais antigo pregador que houve no Mundo foi o Céu. Suposto que o Céu é pregador, deve ter sermões e deve ter palavras. E quais são estes sermões e estas palavras do Céu? As palavras são as estrelas, os sermões são a composição, a ordem, a harmonia e o curso delas. O pregar há de ser como quem semeia, e não como quem ladrilha ou azuleja. Não fez Deus o céu em xadrez de estrelas, como os pregadores fazem o sermão em xadrez de palavras. Se de uma parte está branco, de outra há de estar negro: se de uma parte está dia, de outra há de estar noite? Se de uma parte dizem luz, da outra hão de dizer sombra; se de uma parte dizem desceu, da outra hão de dizer subiu. Basta que não havemos de ver num sermão duas palavras em paz? Todas hão de estar sempre em fronteira com o seu contrário?(...)
Mas dir-me-eis: Padre, os pregadores de hoje não pregam do Evangelho, não pregam das Sagradas Escrituras? Pois como não pregam a palavra de Deus? – Esse é o mal. Pregam palavras de Deus mas não pregam a Palavra de Deus.37

4.3 – Manuel Botelho de Oliveira:

Manuel Botelho de Oliveira, nasceu em 1636, era de uma família abastada de Salvador e estudou Leis em Lisboa, sendo contemporâneo de Gregório de Matos. Dedicou-se à advocacia na Bahia com sucesso. Foi vereador, advogado e agiota.
O primeiro escritor nascido no Brasil a ter uma obra impressa. Em 1705 vem à luz Música do Parnaso, representativa do estilo barroco da época. Manuel Botelho de Oliveira, é de cunho estilizado , não representa o universo brasileiro senão no seu poema À Ilha de Maré, pelo seu caráter pictórico e exuberância de minúcias, e especialmente pela preocupação por uma paisagem brasileira, manifestando um nativismo, que o próprio poeta justifica na dedicatória ao Duque do Cadaval. À Ilha de Maré foi uns dos primeiros poemas a louvar a terra:

Ponderações do Rosto e Olhos de Anarda
Nas faces considero equivocado
de açucenas e rosas ou vestido;
porque se vê nas faces reduzidos
Todo o império de flora venerado (Manuel Botelho de Oliveira).38
Desdém e fermosura
Querendo ver meu gosto
O cândido e purpúreo de teu rosto,
Sinto o desdém tirano,
Que fulmina teu rosto soberano;
Mata-me o equívoco, o belo me convida,
Encontro a morte, quando busco a vida ( Manuel Botelho de Oliveira).39

AMORA, Antonio Soares. Panorama da poesia brasileira: Era luso-brasileira. Rio de Janeiro, Editora Civilização brasileira, Volume I, 1959 pagina 64

Teme que seu amor não possa encobrir-se
Não pode bela ingrata,
Encobrir-se este fogo, que me mata;
Que quando calo as dores,
Teme meu coração que entre os ardores
Das chamas, que deseja,
Meu peito se abra, e minha fé se veja ( Manuel Botelho de Oliveira).40

Ilha de Maré
Esta Ilha de Maré, ou de alegria,
Que é termo da Bahia,
Tem quase tudo quanto o Brasil todo,
Que de todo o Brasil é breve a pôdo;
E se algum tempo Cietéria a achará,
Por esta sua chipre desprezada,
Porém tem com Marília verdadeira
Outra vênus melhor por padroeira.41

4.4 - Bento Teixeira:

Bento Teixeira era portuense, cristão novo, nascido em 1565, veio para o Brasil por volta de 1567 e estudou com os Jesuítas na Bahia para seguir a carreira eclesiástica. Exerceu o magistério particular e a advocacia.
Em 1570 foi preso pelo assassinato da mulher, possivelmente por crime de adultério; acoutou-se então, no convento de Beneditinos, em Pernambuco; foi condenado a 20 anos de prisão, que não se sabe ao certo se cumpriu. Foi mais ou menos nessa época que escreveu a Prosopopéia.
A Prosopopéia é um poema encomiástico que foi publicado em Lisboa, em 1601, cujo título significa, discurso feito por pessoa fictícia, no caso, por Proteu, figura mitológica marinha, deus dos vaticínios, ou seja, que profetiza, prenuncia algo. É um pequeno poema épico em que o poeta exalta a figura de Jorge Albuquerque Coelho e seu irmão Duarte, donatários da Capitania de Pernambuco. É uma imitação de Os Lusíadas, com 94 estâncias em oitava-rima e decassílabos heróicos com todas as partes clássicas do modelo épico renascentista: proposição, inovação, dedicatória e narração. A narrativa é feita por Proteu, referindo os acontecimentos heróicos no Brasil e a seguir.
Em 1594, denunciou-se cristão novo perante o Visitador do Santo ofício em Olinda e é mandado para Lisboa para ser julgado, onde abjurou o judaísmo, obtendo liberdade condicional. Faleceu na prisão em Lisboa não se sabe quando.
Bento Teixeira se muito aproveitou d’Os Lusíadas (episódios, imagens conceitos, maneiras de dizer, esquemas rítmicos e rímicos), em muitos pontos deu-se o direito de discordar, e até explicitamente, do seu modelo camoniano, e por vezes, também, de seus modelos antigos, que considera e declara errados no que respeita a crença no elemento mitológico.
A atitude de independência de Bento Teixeira estava dentro dos cânones da imitação clássica: imitar sem copiar. Mas a legitimidade de sua atitude, até hoje mal compreendida pelos críticos, não teve infelizmente para seus critérios de poeta, o apoio, indispensável de grande talento criador. Se no poemeto a passagens de boa poesia, o conjunto revela ter faltado ao Autor o talento para uma obra de largo fôlego e intensa emoção, qualidades que seu antecessor, Luís Vaz de Camões, possuíra em alta dose.
A crítica em geral não lhe atribuiu grande valor literário, porém, merece a atenção dos historiadores por ser a primeira obra poética, dando início a uma linhagem laudatória e ufanista da terra e da gente brasileira.

A prosopopéia

Ò sorte, tão cruel, como mudável,
Por que usurpas aos bons o seu direito?
Escolhes sempre o mais abominável,
Reprovas, e abominas o perfeito.
O menos digno, fazes agradável,
O agradável mais, menos aceito.
Ò frágil, inconstante, quebradiça,
Roubadora dos bens, e da justiça! (Bento Teixeira).42

5 - A utilização de características da linguagem barroca no mundo contemporâneo
Nenhum período da história da arte tem sido como o barroco, usado nas últimas décadas com um tão amplo e diversificado interesse crítico.
No que diz respeito ao barroco estamos diante de uma arte que nos mostra a liberação da sensibilidade perante ordenações impostas, fazendo com que o objeto estético flua natural e espontaneamente.
Vários autores da atualidade adotaram o estilo barroco em seus poemas e musicas. O que ocorre é que temas como o conflito, a morte o grotesco, o absurdo da vida, são eternos, sempre preocuparam e sempre preocuparão o ser humano. Por razões histórico-sociais, esses temas absorvem o homem barroco.
A situação histórica semelhante que ocorrer em nosso século, faz surgir uma necessidade de que um novo barroco literário se manifeste.
Vão ser utilizados nesse trabalho, versos de Carlos Drummond de Andrade. De fato, este grande poeta contemporâneo tem a "alma barroca", isto é, sua sensibilidade combina com a do estilo barroco, e isso se manifesta em inúmeros poemas seus.
Também vamos utilizar as poesias de Affonso Ávila, ensaísta e Diretor da Revista Barroco, editada pela UFMG que é um poeta ligado a tendências predominantemente concretistas no qual, seus poemas buscam, em geral, uma interligação entre os aspectos temático, ritmo e visual. No entanto, Affonso Ávila, carrega uma forte herança barroca. Tal herança parece ser incorporada e trabalhada de forma inconsciente pelo poeta, que denominou um de seus livros de Barrocolagens. Nesta obra, o autor realiza, de fato, colagens de textos de Padre Antônio Vieira, Gregório de Matos Guerra, entre outros, misturados a versos de sua autoria, nos quais, reproduz o estilo discursivo e a temática barroca.43
Foram citados neste capítulo alguns trechos de letras de músicas de Caetano Veloso, que se servia muito da linguagem barroca em suas composições. O próprio diz em uma de suas músicas, mais especificamente "Outras Palavras", ser barroco. Como também, Chico Buarque de Holanda, Milton Nascimento, que utilizam em algumas de suas canções figuras de linguagem predominantemente do estilo barroco.
Apesar de possuírem características barrocas, não se pode dizer que os textos de Drummond, Ávila, Caetano Veloso, Chico Buarque e Milton Nascimento são barrocos, pois, eles apresentam, em sua predominância traços que caracterizam a literatura do nosso tempo. A técnica do colagem de Affonso Ávila, por exemplo, é tendência da arte moderna. Os poemas de Drummond por sua vez, apresentam uma visão moderna do universo, ainda que os sentimentos do poeta se manifestem, muitas vezes, através de formas barrocas de expressão. Bem como, Caetano Veloso, Chico Buarque e Milton Nascimento utilizam da linguagem barroca nas suas composições, porém, as músicas são modernas.
Apresentaremos neste capítulo algumas relações entre o estilo literário barroco e o estilo desses autores contemporâneos:
No que diz respeito ao sentimento que a realidade humana é absurda, sem solução, repleta de contrastes:

O amor não nos explica. E nada basta,
nada é de natureza assim tão casta.
que não macule ou perca a sua essência
ao contato furioso da existência
Nem existir é mais que um exercício
de pesquisar da vida um vago indício
a provar a nós mesmos que, vivendo,
estamos para doer, estamos doendo (Carlos Drummond de Andrade).44

Bem como, a expressão do grotesco, do chocante, do monstruoso: É o "feísmo", ou o "belo horrível" barroco:

Tropicália
O monumento não tem porta
a entrada é uma rua antiga estreita e torta
e no joelho uma criança sorridente
feia e morta estende a mão (Caetano Veloso).45

Também é comum ao mundo moderno a angústia religiosa, ligada a mistura entre o sagrado e o profano:
Poema das Sete Facas
(...)Meu Deus por que me abandonastese sabias que eu não era Deusse sabias que eu era fraco.Mundo mundo vasto mundo,Se eu me chamasse Raimundoseria apenas rima, não seria solução.Mundo mundo vasto mundo,mais vasto é meu coração.Eu não devia te dizermas essa luamas esse conhaquebotam a gente comovido como o diabo (Carlos Drummond de Andrade).46
Em muitos poemas da atualidade é comum a expressão do conflito, manifestado através da anteposição de imagens e sentimentos antagônicos:

Anjos de duas faces
Anjo de duas faces,
o sol e as trevas, eis,
E vós, Indecisão,
serpente me venceis
Bigênito demônio
solevando punhal,
deuses escarnecendo,
sois o Bem, sois o Mal?

Sorriso de mulher
em pose de invectiva,
o choro da criança
Não morta, semiviva
Anjo de duas faces,
duplo lago reflete
o olhar de uma condena,
o olhar de outra promete (Affonso Ávila).47

A letra dessa música Contemporânea estrutura-se a partir de uma característica fundamental do estílo barroco: a antítese.

FRUTA BOA
É maduro nosso amor
Não moderno.
Fruto de alegria e dor.
Céu, inferno
Tão vivido nosso amor,
Convivência de felicidade e
Paciência.48


UMAS E OUTRAS
Se uma nunca tem sorriso
É pra melhor te reservar
E diz que espera o paraíso
E a hora de desabafar.
A vida é feita de um rosário
Que custa tanto a se acabar...
Por isso, às vezes ela pára
E senta um pouco pra chorar.
Que dia! Nossa, pra que tanta conta
Já perdi a conta de tanto rezar.
Se a outra não tem paraíso
Não dá muita importância, não.
Pois já forjou o seu sorriso
E fez do mesmo profissão.
A vida é sempre aquela dança
Onde não se escolhe o par.
Por isso, às vezes ela cansa
E senta um pouco pra chorar.
Que dia! Puxa, que vida danada
Tem tanta calçada pra se caminhar (Chico Buarque de Holanda).48

É fácil encontrar o rebuscamento nos poemas modernos, sutileza e complexidade das idéias:

Os remédios do amor e o amor sem remédio
são as quatro coisas e uma só
o primeiro remédio é o tempo
tudo cura o tempo, tudo faz esquecer,
tudo gasta, tudo digere, tudo acaba
atreve-se o tempo a colunas de mármore,
quanto mais a coração de cera?
são as afeições como a vida,
que não há mais certo sinal
de haverem de durar pouco,
que terem durado muito (Affonso Ávila)

Conclusão
O presente trabalho tentou mostrar o barroco ligado a uma ideologia que lhe empresta unidade espiritual, e essa ideologia traduziu-se em todas as manifestações artísticas, além do vestuário, da jardinagem, das festas, das características estéticas e estilísticas.
O barroco preencheu o vácuo existente entre o renascimento e o classicismo, definindo obras diversas que refletem um estado de espírito comum, em todas as literaturas nacionais modernas. O barroco é portanto um estilo artístico e literário, e mais do que isso, o estilo de vida que tomou conta do período compreendido entre o final do século XVI e o século XVII, e de que participaram todos os povos do Ocidente.
Verifica-se que o barroco utiliza de temas contraditórios e conflituosos, como a morte, o absurdo da vida, o diferente. No entanto, esses temas são eternos, sempre estarão presentes na vida das pessoas. A criação barroca adquiriu, quase sempre, um caráter bastante autônomo, com o objetivo de criar naturalmente uma nova espécie de agir e de ser. Desse modo, pode acontecer que uma situação histórica semelhante volte a ocorrer em nosso século e, assim, um novo barroco literário torne a se manifestar enrriquecendo novamente o estilo de viver e pensar dos homens ocidentais.
BIBLIOGRAFIA
AMORA, Antonio Soares. Panorama da poesia brasileira: Era luso-brasileira. Rio de Janeiro, Editora Civilização brasileira, Volume I, 1959.
ANDRADE, Carlos Drummond. As Impurezas do Branco.Rio de Janeiro, Livraria José Oliympio Editora,4ª Edição, 1978.
ÁVILA, Affonso. O Lúdico e as Projeções do Mundo Barroco. São Paulo, Editora Perspectiva, 2ª Edição, 1980.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo 36ª Edição. Cultrix, 1936.
BRAYNER, Sônia. A poesia no Brasil. Rio de Janeiro,VolumeI. Editora Civilização Brasileira, 1981.
COUTINHO, Afrânio. Do Barroco: ensaios. Rio de Janeiro Editora UFRJ/Edições Tempo Brasileiro,1994.
_________________ A Literatura no Brasil. Rio de Janeiro, 2ª edição Vol. I e II, 1968.
FILHO, Domício Proença. Estilos de época na literatura. São Paulo, Editora Ática, 5ª edição, 1978.
ÁVILA, Affonso. O modernismo. São Paulo, Editora Perspectiva S.A., 1975.
CHIAMPI, Irlemar. Barroco e modernismo. São Paulo, Editora Perspectiva, 1998.
FERREIRA, Nádia Paulo. Poesia Barroca. Rio de Janeiro, Editora Ágora da Ilha, 2000.
FARACO, Carlos Emílio. MOURA, Franscisco Marto. Língua e Literatura. São Paulo, Editora Ática, 19ª Edição, 1999.