A NATUREZA NO SONHO ROMÂNTICO DE INVENÇÃO DE UMA IDENTIDADE DA
NAÇÃO
Valdeci Rezende Borges(UFG/CAC/NIESC)
José de Alencar, em Sonhos D’Ouro, de 1872, tratou de questões que permeavam o
debate cultural da sociedade imperial, como a construção da identidade da jovem nação
brasileira. O romance formaliza a proposta teórica apresentada no prefácio, “Benção
Paterna”, em que se discutem os vínculos entre literatura e experiências socioculturais,
elementos nativos e estrangeiros. A trama centra-se na sociedade da Corte, receptiva a
“elementos diversos” de outras nações, os quais cambiavam a “cor local”, tornando sua
“fisionomia indecisa, vaga e múltipla”, devido à “importação contínua de idéias e costumes
estranhos”. O território dos arredores das serranias da Tijuca predomina como cenário e
aspecto constituinte do romance. Busca-se, aqui, perceber, nas descrições da natureza
fluminense, a edificação de um imaginário formador de uma identidade do lugar e da nação,
destacando suas singularidades, belezas e monumentalidade.
O livro abre-se anunciando as belezas da natureza carioca com a frase “O sol
ardente de fevereiro dourava as lindas serranias da Tijuca”. Em passeios aos pontos de
visitação da montanha ou na residência de veraneio de Guida, a Tijuca ocupa lugar
privilegiado na trama. Na montanha, natureza e sociedade interagem e articulam-se, no
entanto a segunda teve ressaltado seu lado negativo. A flor que brotava na primeira e a
simbolizava, como forma de existência pré-capitalista, foi descrita como originária de uma
“natureza lerda, que ainda cria pelo antigo sistema, com o sol e a chuva”. Mas ela remete
ainda ao que a sociedade moderna, “que tudo aferventa a vapor” e “tudo reduz a uma
pequena operação química”, elegeu como símbolo para tudo mediar, o ouro, o dinheiro. Na
natureza vagarosa, a “pequena flor silvestre” tinha botões que despontavam em dezembro,
conservava estacionários “por muito tempo” e, só dois ou três meses depois,
desabrochavam e murchavam num dia.
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