segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Barroco: o cultismo e o conceptismo

Definições:

Cultismo - é um abuso ou artifício da fantasia no campo psicológico da representação sensível, perceptível, cujo maior representante desta tendência no Brasil é Gregório de Matos.

Conceptismo - é um abuso ou requinte da fantasia nos domínios próprios do entendimento, do pensar formal.

  • Cultismo: é caracterizado pela linguagem rebuscada, culta, extravagante; pela valorização do pormenor mediante jogos de palavras, com visível influência do poeta espanhol Luís de Gôngora; daí o estilo ser também conhecido como Gongorismo.
  • O aspecto exterior imediatamente visível no Cultismo ou Gongorismo é o abuso no emprego de figuras de linguagem como as metáforas, antítese, hipérboles, hipérbatos, anáforas, paronomásias, etc...

    "O todo sem a parte não é o todo;

    A parte sem o todo não é parte;

    Mas se a parte o faz todo, sendo parte,

    Não se diga que é parte, sendo o todo.

    Em todo o Sacramento está Deus todo,

    E todo assiste inteiro em qualquer parte,

    E feito em partes todo em toda a parte,

    Em qualquer parte sempre fica todo."

    (Gregório de Matos)

  • Conceptismo: é marcado pelo jogo de idéias, de conceitos, seguindo um raciocínio lógico, racionalista, que utiliza uma retórica aprimorada. Um dos principais cultores do conceptismo foi o espanhol Quevedo, de onde deriva o termo Quevedismo. Os Conceptistas pesquisavam a essência íntima dos objetos, buscando saber o que são, visando à apreensão da face oculta, apenas acessível ao pensamento, ou seja, ao conceitos; assim a inteligência, a lógica e o raciocínio ocupam o lugar dos sentidos, impondo a concisão e a ordem, onde reinavam a exuberância e o exagero. Assim, é usual a presença de elementos da lógica formal, como:

A – O SILOGISMO: Dedução formal tal que, postas duas proposições, chamadas premissas, delas se tira uma terceira, nelas logicamente implicada, chamada conclusão. Assim, temos como exemplo: Todo homem é mortal (premissa maior); ora, eu sou homem (premissa menor); logo, eu sou mortal (conclusão).

Observe a construção dos tercetos finais de um soneto sacro de Gregório de Matos que, referindo-se ao amor de Cristo diz:

    "Mui grande é o vosso amor e o meu delito;

    Porém pode ter fim todo o pecar,

    E não o vosso amor, que é infinito.

    Essa razão me obriga a confiar

    Que, por mais que pequei, neste conflito

    Espero em vosso amor de me salvar."

Estes versos encobrem a formulação silogística, como segue:

  • Premissa maior: O amor infinito de Cristo salva o pecador.
  • Premissa menor: Eu sou um pecador.
  • Conclusão: Logo, eu espero salvar-me.

B – O SOFISMA: É o argumento que parte de premissas verdadeiras e que chega a uma conclusão inadmissível, que não pode enganar ninguém, mas que se apresenta como resultante de regras formais do raciocínio, não podendo ser refutado. É um raciocínio falso, elaborado com a função de enganar.

Ex.: Muitas nações são capazes de governarem-se por si mesmas; as nações capazes de governarem-se por si mesma não devem submeter-se às leis de um governo despótico. Logo, nenhuma nação deve submeter-se às leis de um governo despótico.

Cultismo e Conceptismo são dois aspectos do Barroco que não se separam; antes, superpõem-se como as duas faces de uma mesma moeda. Às vezes, o autor trabalha ao nível de palavra, da imagem; busca mais argumento, o conceito. Nada impede que o mesmo texto tenha, simultaneamente, aspectos Cultistas e Conceptistas. Com os riscos inerentes às generalizações abusivas, diz-se, didaticamente, que o Cultismo é predominante na poesia e o Conceptismo, predominante na prosa.

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