segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Manuel Botelho de Oliveira - Poemas



Ponderação do rosto, e olhos de Anarda

Quando vejo de Anarda o rosto amado,
Vejo ao Céu, e ao jardim ser parecido;
Porque no assombro do primor luzido
Tem o Sol em seus olhos duplicado.

Nas faces considero equivocado
De açucenas, e rosas o vestido;
Porque se vê nas faces reduzido
Todo o Império de Flora venerado.

Nos olhos, e nas faces mais galharda
Ao Céu prefere quando inflama os raios,
E prefere ao jardim, se as flores guarda:

Enfim dando ao jardim, e ao Céu desmaios,
O Céu ostenta um Sol; dois sóis Anarda,
Um Maio o jardim logra; ela dois Maios.


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A um grande sujeito invejado e aplaudido

Temerária, soberba, confiada,
Por altiva, por densa, por lustrosa,
A exalação, a névoa, a mariposa,
Sobe ao sol, cobre o dia, a luz lhe enfada.

Castigada, desfeita, malograda,
Por ousada, por débil, por briosa,
Ao raio, ao resplendor, à luz formosa,
Cai triste, fica vã, morre abrasada.

Contra vós solicita, empenha, altera,
Vil afeto, ira cega, ação perjura,
Forte ódio, rumor falso, inveja fera.

Esta cai, morre aquele, este não dura,
Que em vós logra, em vós acha, em vós venera,
Claro sol, dia cândido, luz pura.


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À ILHA DE MARÉ (fragmento)

Tenho explicado as fruitas e legumes,

que dão a Portugal muitos ciúmes;

tenho recopilado

o que o Brasil contém para invejado,

e para preferir a toda a terra,

em si perfeitos quatro AA encerra.

Tem o primeiro A, nos arvoredos

sempre verdes aos olhos, sempre ledos;

tem o segundo A, nos ares puros

na tempérie agradáveis e seguros;

tem o terceiro A, nas águas frias,

que refrescam o peito, e são sadias;

o quatro A, no açúcar deleitoso,

que é do Mundo o regalo mais mimoso.

São pois os quatro AA por singulares

Arvoredos, Açúcar, Águas, Ares.


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